DOUTORADO

sexta-feira, dezembro 28

Valeu, 2012!




Em resumo: me orgulho de 2012!

- De janeiro a junho concretizamos o Gauchada Sul Gêneris, no CCBB-RJ, com Renato Borghetti, Gisele de Santi, Marcelo Delacroix, Pedrinho Figueiredo e Nó de Pinho. Uma superprodução realizada pelas grandes Tere Xavier e Juliana Scherer, da Fato Singular, em parceria com a C2, do RJ.

- Em março participamos do Galpão Criolo, com Mimmo Ferreira, Jean Presser e Miguel Tejera. Além disso meu tema "Paisagens" tocou durante toda a semana no Jornal do Almoço, em homenagem a Porto Alegre.

- Ainda em março, tive a honra de participar do Lançamento do maravilhoso "Canteiro", no SESC Pompéia, do grandioso André Mehmari, ao lado de nomes como Sérgio Santos, Mônica Salmaso, Ná Ozzetti, Alexandre Andrés, Daniel Pinheiro, Neymar Dias e Sérgio Reze;

- Em abril participei de show com o Nó de Pinho do CCBB-RJ, ao lado do Paulo Gaigeer e Thiago Colombo. Participação especialíssima de Kleiton Ramil.

- Em maio, turnê na Costa Rica, lançando o Palavreio no lindo Theatro Nacional, en San José com Dionísio Cabal e Max Goldenberg, show televisionado pelo Canal 15 da UCR.

- Em junho, lançamos o Palavreio no CCBB-RJ, com participação especialíssima do André Mehmari, ao lado do maravilhoso Pedrinho Figueiredo e dos supers Andréa Cavalheiro, Marcelo Corsetti, Luke Faro, Mimmo Ferreira, Miguel Tejera e Marcelo Delacroix.

- Em julho repetimos a dose no Theatro São Pedro, em POA, com o espetáculo "Palavreio e Outras Canções", contando com a parceria de Fernando Ochôa, Guga e Têmis Nicolaidis. Gravamos o áudio desse show e lindas imagens que virão a tona em breve.

- Também em julho, o grande Fábio Mentz lançou o disco duplo "Álbum", onde tive a honra de figurar como seu parceiro em "Caminho da Roça".

- Entre agosto e novembro, dediquei-me a produção do meu disco infantil "Mandinho". Com maravilhosas participações de André Mehmari, Paulino Cardoso, Fábio Mentz, Simone Rasslam, Álvaro Rosacosta, Miguel Tejera, Sérgio Olivé, Luke Faro, Rogério Constante, Neymar Dias, Mimmo Ferreira, Edu Pacheco, Paulo Gaiger, além do grande parceiro do disco Colombo, que arranjou e compôs coisas comigo. Participaram os amigos Dionísio Cabal, Max Goldenberg e Daniel Solano, da Costa Rica.

- As gravações do Mandinho ocorreram em Pelotas, Porto Alegre, São Paulo e San José da Costa Rica. O disco foi mixado e masterizado pelo grande Luiz Ribeiro. Está indo pra fábrica e lançaremos em março de 2013. Já dá pra conferir alguma coisa na rede!

- Foi ao ar a gravação do bacanérrimo "Galpão Nativo", ao lado do Edu Pacheco, Andrea Cavalheiro e Paulinho Cardoso, adiantando temas do "Mandinho" e tocando temas do "Canteiro" e "Palavreio".

- No final de novembro, lançamos o clipe "Grávida (videodança), maravilhoso trabalho da Têmis (Coletivo Catarse) sobre coreografia da Maria Falkembach.

- Isso sem falar na vida de professor, no CEAD/CLPD, Conservatório de Música, Curso de Produção Cultural e Licenciatura em Dança da UFPEL. Aulas, produções, artigos e tudo mais.

Então é isso, gente!! Que venha 2013 cheio de gás e fé!!

Logo, logo Mandinho, Site Novo e novidades na Parada!

Abraço grande e obrigado pela companhia, pela força e pelo carinho!

sexta-feira, dezembro 21



Nem que o mundo acabe
Nem que a vaca tussa
Nem roleta russa
Ou guarani tacape
Neste mundo araque
Me voy pra Mendoza
Que ninguém nos ouça
Mundaréu mandraque
Neste mundo claque
Mandarei lembrança
Que ninguém desande
Seu mundinho nave

sexta-feira, outubro 12

PINTINHO DA GALINHA JAPONESA (DEMO VERSION MIX 29 09 2012)

PINTINHO DA GALINHA JAPONESA (DEMO VERSION MIX 29 09 2012)



Lá Vai. Não me aguentei com este dia da criança bacana.

Aqui vai a faixa de abertura do disco "Mandinho", em fase de finalização, com financiamento do Procultura.

Lígia Constante (filha do Rogério Constante) em super participação especial com lindo arranjo de violões do Thiago Colombo de Freitas!

Outra hora conto a história dessa canção. Feliz dia da Criança a Todos e viva nossa senhora de Aparecida!!


...............

O Pintinho da Galinha Japonesa (Leandro Maia)

Versão não finalizada do disco "Mandinho", de Leandro Maia.

Lígia Constante (voz) 
Leandro Maia (voz) 
Thiago Colombo de Freitas (violões e arranjo) 
Participação de Gonçalo Maia em "não quelo".

Pintinhos pintados
de olhos puxados
pintaram no pátio da escola
casquinhas de ovos
quebradas de um lado
e plumas perdidas de outro

O pintinho coitado
dizia assustado:
"Ué, mas aqui não é Tóquio?"

Não sei, nissei
Não sei, nissei
Mas, ó, vê se toma cuidado
O gato chinês tá de olho em vocês
O jeito é ficar comportado

Se o gato chinês algum dia aprontar
a mãe japonesa vai lá e IÁ!!!!!!!!!!!!!!!

terça-feira, outubro 2

MILONGA DE SÃO GONÇALO (THIAGO COLOMBO)

Salve gente boa,

Estou blogando pouco, mas tocando, compondo, gravando um monte. Fora as aulas na UFPEL. O Thiago Colombo é um virtuose do violão. Um absurdo. E está compondo um monte.

A Milonga de São Gonçalo é uma das músicas do repertório do "Nó de Pinho", trio que temos Thiago e eu com o grande Paulo Gaiger. Aliás, uma milonga com pitadas de seu percussivo primo uruguaio, o CANDOMBE.

Com vocês, a Milonga de São Gonçalo, gravada no A Vapor Estúdio, pelo Lauro Maia.





Logo mais algumas novidades relacionadas ao Mandinho, disco dedicado ao universo infantil. O Thiago Colombo, aliás, é um dos grandes parceiros do disco, com duas parcerias e quatro arranjos. 

Abraços

Leandro


sexta-feira, julho 20

PLANO ESTADUAL DE CULTURA DO RS - APONTAMENTOS




APONTAMENTOS SOBRE O PLANO ESTADUAL DE CULTURA (PEC)

Leandro Ernesto Maia
Músico



I
Ainda neste ano de 2012 deve ser enviado para a Assembléia Legislativa o projeto do Plano Estadual de Cultura, que visa apontar diretrizes e ações na área para os próximos dez anos. O projeto encontra-se em fase de elaboração, revisão e sistematização pela Secretaria Estadual de Cultura (SEDAC).

II
O projeto vem na esteira de todo o movimento constituído entre Ministério da Cultura e sociedade civil durante os oito anos de governo Lula, que instituiu o Conselho Nacional de Políticas Culturais (CNPC), Câmaras Setoriais e Colegiados Setoriais e outras instâncias de deliberação.

III
Tornar a Cultura política de Estado talvez seja o grande avanço para a área nos últimos anos. Cultura como política de Estado, além de reconhecê-la como direito fundamental a todos os cidadãos, também a estabelece como área estratégica em termos educacionais e econômicos. É cada vez mais crescente a concepção de Economia da Cultura, associada ao conceito de Economia Criativa. Hoje, falar em Cultura, não deveria mais soar como extravagância ou algo supérfluo, e sim como área estratégica ao desenvolvimento nacional e regional, possibilitando a criação de emprego e geração de renda através de ações renováveis e sustentáveis, ou seja, nosso capital simbólico e criativo. Assim como se estimula a economia através do consumo de automóveis e eletrodomésticos, pode-se estimular a própria economia através do consumo de bens culturais, digamos.


IV
O assunto, portanto, é da maior relevância. Relevância humana e econômica. E tem sido tratado assim através da elaboração do Plano Estadual de Cultura, da criação da Secretaria de Economia Criativa na SEDAC, da regulamentação e implementação efetiva do Fundo de Apoio a Cultura (FAC), além da antiga LIC, ligados ao PROCULTURA estadual, dentre outras diversas ações. Neste sentido, em termos regionais avançamos sem dúvida.

Vale ressaltar, já de início, alguns grandes acertos da SEDAC/RS na condução da política estadual ligada à cultura. Estes acertos referem-se às bases conceituais: identificação e fomento das cadeias produtivas, bem como o estabelecimento das três dimensões da cultura: a estética, a cidadã e a econômica. Desde o ano passado, o Governo do Estado realizou seminários e conferências em todo o estado constituindo, a partir das discussões, os Colegiados Setoriais, ou seja, grupos de trabalho compostos por governo, instituições e sociedade civil divididos por áreas como Música, Dança, Teatro, Culturas Populares, Audiovisual, entre outros, com o objetivo de estabelecer as bases do Plano Estadual de Cultura e linhas de ação.

VI
O Plano Estadual de Cultura, como está consolidado até o momento em seu texto base, apresenta cerca de 40 páginas com mais de 250 ações divididas em tópicos como Estado, Diversidade, Acesso, Desenvolvimento Sustentável, Participação Social e Territorialidade. A estrutura do documento é coerente com o processo e discussões realizadas até o presente momento: bastante trânsito entre diversas localidades, realização de palestras e seminários, e menor audiência efetiva às demandas da sociedade civil ligada à área da cultura, além de pouquíssimas reuniões efetivas dos Colegiados Setoriais – criados pela SEDAC em novembro de 2011, justamente para aprofundar as discussões e encaminhar o Plano. Se os Colegiados visam objetivar e sistematizar o diálogo entre Governo e Sociedade Civil, com ênfase no Plano Estadual de Cultura, o diálogo ainda não está ocorrendo a contento.


VII 
O Colegiado Setorial de Música, por exemplo, teve apenas uma reunião, no dia 28 de maio de 2012, convocada no dia 14 do mesmo mês, para analisar as mesmas 40 páginas. Assim como outros Colegiados, os representantes vivem em diversas localidades do interior, não recebem nenhuma ajuda de custo, e precisam planejar suas saídas e agendas. Neste sentido, as representações seriam mais efetivas se houvesse planejamento antecipado de reuniões e boa vontade dos representantes do governo em viabilizar a vinda de representantes à capital: até março, por exemplo, divulgar-se-ia o calendário de reuniões previstas no semestre, entre outras ações. Os encontros “Diálogos Culturais” realizados em diversas cidades do interior não se constituíram como encontros dos Colegiados, pois se caracterizaram como momento informativo aberto ao público, priorizando o formato seminário, mesa redonda, conferência ou palestra de representantes do governo ou convidados. Vale salientar a manifestações de diversos representantes culturais durante a Conferência Estadual de Cultura no sentido de chamar a atenção para o pouco “diálogo” afetivo, onde a programação privilegiava as falas do governo e convidados, havendo pouco tempo efetivo para a apresentação de demandas e propostas da sociedade civil.

VIII
Vale salientar que as entidades, representantes e participantes independentes da sociedade civil ligados à área da cultura já tem uma série de discussões acumuladas, vivências e experiências a serem compartilhadas. Vêm trabalhando, debatendo e articulando políticas culturais há bastante tempo, pelo menos, desde as Conferências Nacionais de Cultura, a Constituição dos Colegiados e Câmaras Setoriais e a redação do próprio Plano Nacional de Cultura. Ouvir as entidades, ativistas culturais e artistas é útil para o próprio governo, que pode focar sua atuação como articulador e pactuador, promovendo e intensificando a construção de políticas públicas conectadas com a realidade. Aliás, este é um dos preceitos da cultura contemporânea: o da inteligência coletiva.

IX

Vale salientar que o pouco diálogo aprofundado se reflete diretamente no Texto-Base do Plano Estadual de Cultura até aqui: ênfase conceitual e poucas diretrizes e linhas de ação concretas. Comparando-se ao Plano Nacional de Cultura, há pouca variação e nenhuma especificidade em um conjunto de 250 ações genéricas, que não se constituem como metas claras e objetivas, ou seja, não se apresentam como indicativos norteadores de políticas públicas. Temos um Plano Estadual de Cultura até aqui se constituindo como um belo manifesto, apenas. Para se ter uma ideia, nenhuma instituição governamental ligada à cultura sequer é citada. Segundo o texto-base, não existe Fundação Cultural Piratini, nem TVE, nem OSPA, nem Discotheca Pública Natho Henn, nem Biblioteca Pública do Estado, nem sistema de Museus, nem Casa de Cultura Mário Quintana, dentre tantos outros equipamentos culturais do próprio governo. Em governos recentes, tanto a OSPA como a TVE quase foram desativadas, sendo primordial à sociedade zelar pela permanência e qualificação destas instituições. O texto-base cita, por cinco vezes, os Colegiados Setoriais, mas não regulamenta ou estabelece nenhuma atribuição. Cita a implementação de um Sistema Estadual de Cultura, sendo que o Plano poderia, inclusive, avançar e instituir o próprio Sistema Estadual de Cultura.

X
A pouca objetividade e funcionalidade não é um privilégio do Plano Estadual de Cultura. O Plano Nacional de Cultura, instituído pela LEI Nº 12.343, DE 2 DE DEZEMBRO DE 2010 apresenta os mesmos problemas de generalidade e pouca objetividade, e não foi por falta de debate, já que durante os anos de 2005 e 2006 representantes da sociedade civil e Governo Federal identificaram desafios, apontaram diretrizes e pactuaram diversas linhas de ação a serem incorporadas ao Plano Nacional de Cultura. A redação final do PNC, infelizmente, optou por eliminar toda a objetividade possível apresentada pela sociedade civil, trazendo um texto genérico. Ao que tudo indica, o Plano Estadual de Cultura segue pelo mesmo caminho, com a diferença de que pula uma etapa – a discussão com a sociedade civil através dos Colegiados Setoriais. Eis uma prática bastante curiosa e sintomática: o próprio governo toma a iniciativa de estabelecer canais de discussão direta e permanente com a sociedade civil, através de diversos mecanismos, mas na hora do “vamos ver” o próprio governo se esquece dos mecanismos criados e toca os projetos à sua maneira. A quem interessa um Plano Nacional/Estadual de Cultura excessivamente genérico com poucas diretrizes? Certamente não interessa à sociedade civil.

XI
Ainda no âmbito do Plano Nacional de Cultura, uma simples comparação entre os relatórios das Câmaras Setoriais e o texto final da lei comprova o que estamos apontando, quase em tom de denúncia: os planos setoriais se estruturaram através de Desafios, Diretrizes e Linhas de Ação, partindo do Geral para o particular, onde é possível perceber, nas linhas de ação, propostas concretas e objetivas que foram amplamente discutidas e pactuadas, ou seja, acordadas entre Governo, Entidades e Sociedade Civil. Na área da música, por exemplo, foi possível unir, quem diria, OMB, ECAD, FUNARTE, ABEM em prol da diretriz “8) Garantir o cumprimento da obrigatoriedade do ensino da música em  toda a escola brasileira priorizando os profissionais da área de música”. Como fruto desta e de outras mobilizações da sociedade civil, foi aprovada a Lei 11.769/08 que estabelece a música como componente curricular obrigatório na educação básica. O que parecia impossível, se tornou realidade – pelo menos em termos legais – em menos de três anos. Aliás, antes mesmo da aprovação do Plano Nacional de Cultura, genérico e pouco objetivo.


XII
Mas o Plano Nacional de Cultura não representou um avanço? De fato. Um avanço e uma conquista histórica. Para quem acompanhou de perto toda a mobilização e sensibilização da classe artístico-cultural, foi possível perceber um sentimento de “verdadeira constituinte da cultura”. O plano, ao final das contas, dissipou as maiores aspirações dos ativistas da cultura. O maior pecado de todo este processo desencadeado entre 2004 até os dias atuais talvez tenha sido a própria desmobilização das entidades e ativistas culturais, organizados através do CNPC – Conselho Nacional de Políticas Culturais. Coube ao CNPC lembrar sempre ao governo os documentos a ações pactuadas, promover moções, destaques e indicar orientações de realização de políticas públicas. O que ocorreu? O CNPC foi esvaziado pelo próprio Governo Federal, que tenta agora renová-lo e encontra – vejam só – grande dificuldade em cadastrar novos candidatos aos Colegiados e Conselho. No âmbito do RS, na primeira chamada de inscrições para representantes ao Conselho Nacional, não atingimos o quórum mínimo na área da música para termos representantes. Será que isto se deve somente à falta de consciência e preparo da comunidade cultural gaúcha? Ou se deve à falta de compromisso dos governos em honrar Colegiados, Conselhos e pactuações estabelecidas com a sociedade civil?

XIII
Voltemos ao nosso Texto-Base do Plano Estadual de Cultura do RS. De maneira geral, chamamos a atenção para os 250 desafios apontados, mas poucas diretrizes e nenhuma linha de ação concreta, conforme ilustramos na comparação entre o Plano Setorial de Música (Nacional) e o Plano Nacional de Cultura. Houve, no início do processo Federal um acerto incrível: os Planos Setoriais (com suas diretrizes, desafios e linhas de ação concretas) encontravam-se prontos e pactuados antes mesmo do Plano Nacional de Cultura. Erro grave: não há uma menção sequer aos Planos Setoriais no Plano Nacional de Cultura, que optou pela generalidade infértil. É como se todas as discussões, pactuações e anos de trabalho e investimento do próprio governo não tivessem existido. Os Planos Setoriais não são lei. A lei é genérica. Para que(m) serve uma lei genérica? Se o Plano Estadual é apenas uma adaptação do Plano Nacional, qual o sentido de fomentar quase dois anos de diálogos com o setor em diversos municípios e estabelecer Colegiados Setoriais no Estado? Faltou criatividade aos gaúchos para superarem o Plano Nacional de Cultura?

XIV
Passemos, então, a alguns apontamentos e sugestões a título de ilustração. No atual Texto-Base do Plano Estadual de Cultura consta, ao meu ver uma Diretriz: “1.30 – atuar em conjunto com os órgãos de educação no desenvolvimento de atividades que insiram as artes no ensino regular como instrumento e tema de aprendizado, com a finalidade de estimular o olhar crítico e a expressão artístico-cultural do estudante.” Esta diretriz integra um Desafio/Objetivo “VII – Estimular a presença da arte e da cultura no ambiente educacional”. Se seguíssemos uma metodologia semelhante aos Planos Setoriais ignorados posteriormente pelo Governo Federal/MinC, poderíamos pensar nos seguintes exemplos de Linha de Ação: a) Criar editais de aquisição de obras artísticas, livros, CDs, DVDs, catálogos, entre outros, para bibliotecas e espaços culturais de escolas públicas. b) Fortalecer e expandir programas como “Autor Presente” e “Adote um Escritor” ampliando-os para outras áreas artísticas; c) Criar selos indicativos, premiações e catálogos de obras audiovisuais e sites recomendadas para escolas; d) Desenvolver e apoiar portais interativos na internet com conteúdo cultural rio-grandense em suas diversas expressões, etc.
Outra necessidade é estabelecermos diretrizes culturais para os equipamentos do Estado, bem como instituições como: Desafio/Objetivo, conforme o Plano atual: XIII – Descentralizar a implementação de políticas públicas de cultura; Diretriz, conforme o Plano atual: 1.11 – Promover uma maior articulação das políticas públicas de cultura com as de outras áreas da administração pública, compreendendo o papel integrador e transformador da arte e da cultura na sociedade. O Plano Estadual de Cultura pára por aqui. Propomos avançar através da inclusão de um “Caderno de Ações”, Linha de Ação: a) Descentralizar e interiorizar os equipamentos culturais no estado através da criação do Instituto Banrisul Cultural e da construção de Centros Culturais com programação contínua e articulada em diversas localidades do RS;
Outros exemplos, Desafio/Objetivo, do Plano Atual: IV – Valorizar e difundir as criações artísticas e os bens culturais; XII – Profissionalizar e especializar os agentes e gestores culturais; Diretriz, no Plano atual: 4.65 – Avançar na qualificação do trabalhador da cultura, assegurando condições de trabalho, emprego descente e renda, promovendo a profissionalização do setor, dando atenção às áreas de vulnerabilidade social, e de precarização urbana e a segmentos populacionais marginalizados. Linha de Ação (proposta para o Caderno de Ações):  a) Criar editais de ocupação de equipamentos públicos do estado (Teatros, Museus, Centros Culturais) com remuneração e pagamento de cachês aos artistas, técnicos, produtores e profissionais envolvido.


XV

Finalmente, mas com o intuito de prosseguir em discussão, propõe-se a revisão criteriosa do Texto-Base do Plano Estadual de Cultura, inserindo a regulamentação dos Colegiados Setoriais no corpo do texto, buscando a valorização e ampliação dos equipamentos culturais do estado, além do desdobramento dos tópicos do texto atual em Linhas de Ação a serem incorporadas à lei sob a forma de um “Caderno de Ações”. Este caderno de ações deverá ser anexado ao Plano, de forma a contemplar a proposição de ações práticas e metas objetivas ao Plano Estadual de Cultura. A comunidade cultural pode contribuir enormemente com sugestões e encaminhamentos sólidos e objetivos durante todo o processo e o Governo do Estado terá a oportunidade de reunir agentes da cadeia produtiva da cultura para pactuarem ações práticas. Além de avançar, vamos tirar o atraso e o pé do barro da cultura.

sexta-feira, junho 29

PALAVREIO E OUTRAS CANÇÕES


PALAVREIO E OUTRAS CANÇÕES

 Leandro Maia convida André Mehmari




Depois de turnê pela Costa Rica e apresentações no Rio de Janeiro
Leandro Maia apresenta seu “Palavreio” e novidades, contando com a participação especialíssima do genial multi-instrumentista
André Mehmari

07/07, 21h no Theatro São Pedro
Cantor, compositor, letrista, violonista e educador musical, é considerado um dos reinventores da tradição cancionista do Brasil. Leandro conta não apenas com o reconhecimento do público gaúcho, mas também de artistas como Ivan Lins, que o convidou a participar de sua turnê Perfil, quando passou pelo Rio Grande do Sul em 2010, ocasião em que Leandro também teve a honra de subir ao mesmo palco ao lado do mestre Geraldo Flach, em sua última apresentação pública. 

Seu primeiro álbum, Palavreio, foi considerado um dos dez melhores discos brasileiros de 2008 pela imprensa gaúcha e lhe rendeu os prêmios Açorianos – Revelação e o Troféu RBS Cultura. Também participou do Projeto Unimúsica – série cancionistas, ao lado de nomes como Lenine e Arnaldo Antunes. 

No show do Theatro São Pedro, Leandro Maia (voz e violão) se apresentará ao lado da banda formada por Pedrinho Figueiredo (flauta, sax e direção musical), Luke Faro (bateria), Mimmo Ferreira (percussão), Miguel Tejera (baixo) e Marcelo Corsetti (guitarra), Michel Dorfman (teclados), além das lindas vozes de Andréa Cavalheiro e Marcelo Delacroix, entoando os coros das canções do premiado “Palavreio”. 

O pianista André Mehmari fará uma grande participação especial: juntos, interpretarão “Luzidia”, “Valsa Russa”, “Sal Saudade”, parcerias gravadas no álbum “Canteiro”, de Mehmari, recentemente lançado no SESC Pompéia, em São Paulo, com participação de Leandro ao lado de André e grandes nomes como Ná Ozzetti, Mônica Salmaso, Sérgio Santos, Luciana Alves e Chico Pinheiro. Outra novidade é “Bolero da Procura”, balada jazz de Mehmari/Maia que viaja pelas diversas regiões do Brasil, passando pela Praia do Laranjal, em Pelotas, onde Leandro Maia reside desde 2010. 

O repertório, que mescla ritmos gaúchos, influências eruditas, rock e jazz, foi recentemente apresentado em turnê pela Costa Rica, no concerto A Dos Voces Poéticas, ao lado do cantautor Dionísio Cabal, um dos nomes mais importantes do movimento da Nueva Canción Costarricense. Vale relembrar Palavreio e conferir as novidades que estarão no próximo trabalho, onde serão gravadas as parcerias inéditas de Leandro Maia também com Marcelo Delacroix, com quem Leandro canta a novíssima “Histórias de Nós Dois”, que passeia pelos casais da literatura brasileira.










PALAVREIO E OUTRAS CANÇÕES
Leandro Maia Convida André Mehmari

07 de julho
Ingressos: entre R$ 20,00 e 50,00
(meia para estudantes, maiores de 65 anos e classe)
Classificação etária: LIVRE

Theatro São Pedro
Rua Marechal Osório, s/nº

Realização: Jean Presser & Cia Ltda/Fato Singular
Produção Executiva: Tere Xavier e Juliana Scherer




terça-feira, maio 29

LaRepublica.net - Voces brasileña y tica regalarán poemas en el Teatro Nacional



LaRepublica.net - Voces brasileña y tica regalarán poemas en el Teatro Nacional

Matéria sobre o Concerto de Amanhã, aqui na Costa Rica!



O Concerto, promovido por "Más Cultura Producciones" reúne os compositores Dionísio Cabal (Costa Rica) e Leandro Maia (Brasil), acompanhados pelos músicos Carlos Saavedra (percussão), Mário Álvarez (baixo), Carlos Mesen (percussão), Alex Sandoval Montero (guitarras)Esteban Salas (violino e acordeom), Nelson Álvarez (piano), Kin Rivera (bateria), Arturo Alpízar (saxofone e flauta) y Cristina Gutiérrez (voz).

Dionísio Cabal é um dos nomes mais importantes da música latinoamericana. Fundador do Movimento da Nueva Canción Costarricence vem, desde os anos 70, defendendo e difundindo a cultura de seu país. Foi premiado em diversos festivais internacionais, dentre eles o Festival Internacional de Moscou, de 1977. Seus discos também receberam diversos prêmios, entre eles o infantil Niñitos, Chepes y Marias (2008), Cabal (2009) e Libertad y una Guitarra (2010). Possui diversas publicações como Refranero de uso Costarricense e ¿Qué tiene el Rey el La Panza?, que conquistou o Terceiro Prêmio Embaixada da Espanha de Narrativa Infantil, em 2011. É o idealizador e maior difusor da “Red Nacional de Copleros”, movimento de resgate da prática da poesia popular e do repentismo da Costa Rica.

Leandro Maia é cantor e compositor brasileiro. Autor do Cd-Livro “Palavreio”, com o qual conquistou o Troféu Revelação do “Prêmio Açorianos de Música”, em 2008, também considerado um dos dez melhores discos brasileiros de 2008 pelos jornais do sul do Brasil. Integrante do trio “Nó de Pinho” com Thiago Colombo e Paulo Gaiger, também participa de projetos ao lado de Fábio Mentz e Marcelo Delacroix. Participa do Cd “Canteiro”, do genial multi-instrumentista André Mehmari, tendo a honra de participar do show de lançamento ao lado de nomes como Mônica Salmaso, Ná Ozzetti, Sérgio Santos e Luciana Alves. Leandro foi um dos idealizadores do Projeto Gauchada Sul Generis, que ocorre no Centro Cultural Banco do Brasil no RJ, em 2012. Prepara seu segundo disco, intitulado “Suíte Maria Bonita e Outras Veredas” e o disco infantil “Mandinho”, em fase de produção pelo Procultura/Pelotas.

domingo, abril 15

Meu irmão me deixa


Meu irmão me deixa


No caso do Luís Antônio, ou Totôto, como era seu apelido familiar, esta afirmação tem muitos sentidos. Sua morte prematura, aos 47 anos, vítima de um câncer fatal, causa um vazio enorme. Mas o verbo "deixa", também tem outro significado. Deixar também significa ficar.

A primeira coisa que meu irmão me deixa é o violão. Ser músico, pra mim, em muito se deve muito aos momentos em que meu irmão tocou violão na minha frente quando eu era bebê. Nasci em 1979, e em 1982 a família mudou-se para Porto Alegre, sob a trilha sonora de Kleiton & Kledir:  "vou pra Porto Alegre, tchau." No mesmo ano de 82, meu irmão torna-me tio da Carolina. Ele, pai com 17 anos e eu, tio com três. Contam os mais velhos que eu aplaudia enfaticamente preso à cadeirinha de comer quando ele tocava o violão, ainda em Caxias do Sul ou Bento Gonçalves – cidades onde moramos antes de POA. Minhas irmãs tocavam piano e meu irmão, violão. Escolhi o violão. Junto com as seis cordas, herdei de meu irmão um intenso repertório, de Villa-Lobos a Nelson Gonçalves, de Almôndegas e Piazzolla, de Beethoven a Pedro Ortaça.

Meu irmão tornando-se pai aos 17 anos, tornou-me tio aos 3. Herdei de meu irmão também, de certa forma, uma velhice e precocidade na vida. Quem me conhece jura que pareço mais velho. Quem me conhece mais de perto tem certeza. Mas meu irmão era a precocidade em pessoa, na verdade um reflexo de sua melancolia, de sua alma velha, se sua mente privilegiada. Aos vinte e poucos anos, cantava tangos nas casas noturnas em Porto Alegre, com preferência ao Recanto Latino, de Nina Moreno, que tive a honra de conhecer numa das noitadas ao lado do meu irmão, anos mais tarde. Tivemos algumas memoráveis noitadas. Cantar tango e Nelson Gonçalves, para um cara de vinte e poucos anos, nos anos 80 era praticamente um atestado de antiguidade. (Hoje o tango renasce em jovens intérpretes, mas na época era outro papo). Com meu irmão comi espinhaço de ovelha em sexta-feira santa. Até hoje minha mãe não sabe desse sacrilégio. Com meu irmão fui em meu primeiro bar noturno para ouvir música, o Bluejazz, na Cidade Baixa. Trabalhar cedo, dormir o mais tarde sempre que possível. Viver o dia e a noite ao máximo.

Herdar toda esta velhice, significa também herdar um bom grau de ironia e acidez – que fiz questão de ir domando com o tempo e que venho mantendo sob certo controle, na medida do possível. Meu irmão, que tinha um cérebro mais acurado do que qualquer PhD, cultivava um ph baixíssimo em termos de humor – o que caracteriza uma acidez considerável. Gostava de vinhos encorpados, da mesma forma. “Parei de fumar cigarro”. Que bom, comemorava com os meus botões. “Passei ao charuto”, completava a frase com seu sorriso de canto de boca, já propenso ao fumo anatomicamente, como se fizesse parte de sua constituição física. Não foram poucas vezes em que ouvi recados na secretária eletrônica entrecortados por suspiros de fumo de cigarro. Era uma espécie de marca, pausa retórica, com ares de Quintana.

Mas era igualmente comum ver este sorriso abrir-se largo ou em gargalhadas. Era um excelente piadista. Mas das piadas dele, sempre com um grau de sobriedade, um humor bastante seu. Sagaz. Isto eu, definitivamente não herdei. Meu irmão me deixa seu senso de humor, sem dúvida, mas meu reflexo humorístico é bastante retardado. Acabo eu sendo mais chulo, na verdade. As histórias e causos que meu irmão contava costumavam entrar para o dicionário da família. Era bastante comum que nossas piadas ficassem no ar, incompletas ao público, consumidas somente no olhar. De certa forma, o humor era um dos artifícios de meu irmão à cumplicidade. O humor era uma porta de entrada no seu denso pensamento, e ao mesmo tempo um truque para desviar de assunto, quando não queria falar de algo. Humor nos seus diversos matizes: a sagacidade, a leveza, a ironia, a sátira, a inocência, a ternura. Então, sentir falta de meu irmão é paradoxalmente sentir falta tanto de sua melancolia, quanto de seu humor. Sentir falta de sua voz e de seu silêncio, de suas respirações. Quando até o silêncio faz falta é quando mais dói. “Um amigo calado, desses que lêem versos de Horácio”, conforme Drummond, em “A Bruxa”, um de seus poemas preferidos.

Meu irmão me deixa muitas leituras e desejos de leituras. Dele herdei Marx, Fernando Pessoa, Quintana, Vinícius, Drummond mil vezes. Esta é uma herança sagrada. Herdar Dom Quixote. Herdar “A Flor e a Náusea”, “A Bruxa”, “Os ombros suportam o mundo” e outros tantos poemas de Drummond recitados com maestria é o mesmo que herdar a arte de fazer fogo, de forjar uma espada ou cozinhar um prato milenar de família. Herdar seus comentários sobre Getúlio Vargas, Júlio Cesar, Napoleão e General Lott. Não há como explicar o sabor do amendoim com chocolate – ou carapinha, como chamamos lá em casa – feito por minha mãe. O máximo que posso dizer é que minha passagem pelo primeiro grau num colégio de freiras foi inesquecível às professoras não por causa de minha dedicação como aluno, mas pelo sabor e cheiro das carapinhas feitas pela dona Antonieta nas festas juninas. O privilégio de ouvir um poema do Luís é equivalente ao degustar as inexplicáveis carapinhas. Algo somente possível pela experiência vivida, intransferível, inesquecível.  Não há como abrir um livro sem os dedos do Luís não apareçam em suas páginas. Eu não sabia que as carapinhas eram tão maravilhosas assim. Eu não sabia que meu irmão era o melhor recitador de Drummond até ver outras risíveis interpretações de gente famosa, que consegue transformar Drummond num colunista de meia pataca. A poesia era quase mística em meu irmão.

Herdei milhares livros que não li, uma faculdade de direito que não completei. Herdei um futuro que ficou pra lá. Ainda bem. Até isso é herança boa. Herança de possibilidades. Herdei lugares: Brasília, Belém do Pará, Pirenópolis, Goiás Velho, São Paulo e Rio, de certa forma Buenos Aires e, até mesmo Paris – que ainda não conheço, mas não terei como colocar os pés por lá sem seguir o rastro do meu irmão, que palmilhou cada pedra. O mesmo ocorre com outros tantos lugares. Meu irmão me deixa o sabor das viagens, o cheiro das pessoas. Meu irmão me deixa Tucupi, Maniçoba, Surubi, Cachorro do Rosário, Bauru do Trianon, amplo espectro de churrasco e peixes, sorvetes maravilhosos e pastas diversas. Legou-me restaurantes, cheiros e lugares.

Minhas primeiras viagens sozinho foram obra de meu irmão. Aos 16, 17 anos poder vagar solto por alguns dias em lugares desconhecidos é como herdar o próprio mundo. Herdar o mundo palmo a palmo, passo a passo, como quem tateia no escuro. Essa herança de mundo é a que fica de verdade, é uma a conquista que coloca o Rio do Peixe ao lado de qualquer Eufrates e o Pouso do Sô Vigário no nível de um Copacabana Palace. Viajar na caçamba de uma caminhonete entre Pirenópolis e Goiânia. Caminhar em Belém do Pará do Theatro da Paz até a Estação das Docas, da Casa das Onze Janelas até o Mangal das Garças. “Tens que conhecer o Recife”. “Minas é o Brasil”. Entre tantas outras referências a terras e pessoas. Viagens onde me encontrei. Meu irmão me deixa também lugares onde ainda não fui.

Ouvir música, abrir um livro, comer com prazer. Presentear os outros. Isto era meu irmão. Se o mano agora é perda, ele também me deixa a dádiva. Se meu irmão agora é tristeza, é porque me possibilitou vida. Desde presentes materiais, alguns insanamente caros, até terapia, meu irmão me deixa minha alma. Se hoje me pego imóvel diante da dor, meu irmão me deixou a inquietude e perplexidade ativa diante do mundo. Tocando em frente.

“Chega um tempo em que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistificação”. Um dos seus versos preferidos de Drummond ainda ressoa a cada lembrança. “Teus ombros suportam o mundo, e ele não pesa mais do que a mão de uma criança. As guerras, a fome, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue, nem todos se libertaram ainda.” “Chega um tempo em que não adianta morrer”. Essa leveza densa é um legado diante do mundo de hoje.

“El mundo fue y será una porquería”, já sabemos. Um cambalache insolente, como diria seu tango predileto. Mas também “uma aventura errante”, conforme Vinícius de Moraes, outro dos preferidos do Luís. Chega um tempo em que a vida é uma ordem. Enquanto vivemos nossa vidinha, seguimos ainda descobrindo e desvelando legados. A vida, apenas. Grande e pequena. Intensa e curta. Que a memória do Luís siga como um farol que nos engrandeça, que nos afaste da mediocridade e que nos permita viver amores, sabores, humores com toda a densidade que ele nos revelou existir. Te amo, velho.

quarta-feira, abril 11

PROCULTURA: UMA ODISSÉIA EM PELOTAS


PROCULTURA: UMA ODISSÉIA EM PELOTAS
 
 
Por Leandro Maia
Músico
 
 
I
PROCULTURA é o nome do Programa Municipal de Apoio à Cultura instiuído pela Lei Municipal Nº 5.662, de 30 de dezembro de 2009. O programa é gerido pela Secretaria Municipal de Cultura, a SECULT, atualmente dirigida pelo Sr. Secretário Ulisses Nornberg. Vale ressaltar, de início, que a referida lei constituiu-se num grande avanço para a cidade, pois implementa uma política pública democrática, transparente, plural e eficiente, se realizada de fato.

II
É um avanço exemplar em vários sentidos. A proposta surgiu como uma demanda da própria comunidade cultural pelotense, através da manifestação de artistas e ativistas da cultura, de seminários como “Primavera da Cultura Livre”, promovidos pelos diversos coletivos e movimentos culturais da cidade, que é uma referência em cultura no Rio Grande do Sul e Brasil. Um avanço porque nasce do diálogo entre comunidade cultural e poder público. Um avanço porque compreende a cadeia produtiva do setor e sua organização como Economia da Cultura. Avanço porque entende as artes e a cultura como campo de trabalho, emprego e renda, além de elemento fundamental para a estruturação da subjetividade e imaginário simbólico de uma população. Uma programação cultural forte na cidade contribui para a educação, para o turismo, o lazer em diversos âmbitos da vida das pessoas.

III
O diálogo parece rompido unilateralmente, como se o tampão de ouvido utilizado por Ulisses, herói da Odisséia, ao invés de protegê-lo do canto das sereias, o tivesse protegido do canto dos artistas da cidade. Isto porque o Secretário Ulisses e o Prefeito Adolfo Fetter, decidiram utilizar as verbas destinadas ao Programa Municipal de Apoio à Cultura – que é gerenciado através de edital público, implementado por técnicos e avaliado por especialistas – em outras prioridades, digamos, o que gerou um “erro de sistema”, ocasionando atraso nos pagamentos. Desde o ano de 2011, diversas explicações foram dadas. Mas explicação não é diálogo. Diálogo é cumprir o que foi acordado, decretado, selado, registrado, carimbado, avaliado, rotulado, se quiser voar. Plunct, Plact, Zum, não vai a lugar nenhum, como diria o velho Raul. Se a cidade apresenta problema em relação a espaços culturais (vide Theatro Sete de Abril), apresenta também sério problema na área de financiamento à cultura.

IV
Voltando aos gregos: um simples jogo de lógica nos faria pensar a respeito. 1) O gestor público institui o PROCULTURA democrático, transparente, plural e eficiente. 2) O gestor público não executa o PROCULTURA democrático, tranparente, plural e eficiente. 3) Qual é a conclusão? Podemos afirmar que o gestor público é democrático, transparente, plural e eficiente? Talvez o procedimento de silogismo não esteja a contento e o autor possa parecer um sofista, mas o exercício é revelador da atual situação da Cultura em Pelotas. O mesmo gestor que cria a lei, não a aplica. Como fica?

V
E mais: o Programa não está completo. Recentemente em audiência sobre o tema na Câmara de Vereadores, realizada em 23/03/2012, ficou esclarecido outro “erro de sistema”: a verba do Procultura não se constitui num Fundo Municipal, não apresenta reserva ou destinação alguma. Não tem valor fixo, não tem prazo, vinculação. Nada obriga a Prefeitura a executar o orçamento referente ao Procultura – a não ser, é claro, o compromisso firmado através de editais e o controle da sociedade civil. Temos, então, um “cavalo de Tróia”, uma “Economia Informal da Cultura”, embora existam contratos assinados desde janeiro prevendo o repasse de verbas e execução de projetos importantes para a cidade. Um verdadeiro épico do financiamento à cultura.

VI
Vale ressaltar à população e ao poder público atual e futuro – já que estamos próximos às eleições municipais – que é urgente que o programa transforme-se realmente num Fundo. Isto é uma diretriz do próprio Ministério da Cultura (MinC) para o setor. Somente poderá participar do Sistema Nacional de Cultura, em fase de implementação, a prefeitura que tenha o chamado “CPF”, ou seja, que tenha instituído um Conselho, um Plano e um Fundo Municipais de Cultura. Se o Sistema Nacional de Cultura já estivesse em vigor, Pelotas não poderia participar dele, pois o Programa de Apoio à Cultura (PROCULTURA) não é gerido por meio de um Fundo Municipal, que tenha receita e rubricas próprias. É gerido através de uma verba aleatória e perambulante junto aos cofres da Prefeitura Municipal entre um carnaval e outro. Não ter um Fundo Municipal de Cultura em Pelotas impossibilita que a cidade receba, inclusive, verbas federais para o setor. Resumindo: além de não pagar o que deve, a Prefeitura Municipal impossibilita que venham outras fontes de recursos para a Cultura de Pelotas, pois a cada real investido pela Prefeitura, prevê-se um real do Governo Federal. Como está atualmente, o Procultura vive ao sabor dos ventos da nave de Ulisses em meio ao Mar Egeu. Antes fosse o Laranjal. Que a situação se resolva sem maiores tragédias e o PROCULTURA cumpra seus mais de doze trabalhos a serem realizados ainda neste ano.
 
 

domingo, janeiro 15

Luís Antônio Castagna Maia (16/12/1964 - 14/01/2012)






Advogado cível, considerado o maior nome de Direito Previdenciário no país, Luís Antônio Castagna Maia nasceu em 16/12/1964, na cidade de Gaurama/RS. Irmão do meio, filho do bancário Antônio Brasil Ferreira Maia e da dona de casa Antonieta Castagna Maia, passou boa parte da infância mudando-se para diferentes cidades do interior gaúcho, acompanhando as transferências do pai, gerente substituto do antigo Banco Agrícola, mais tarde Unibanco. A relação com bancários e o trânsito por várias cidades se fizeram constantes em sua vida.

Desde cedo demonstrava grande inquietação com o mundo, rebeldia e grande intensidade existencial. Aos 13 anos começou a trabalhar. Aos 14 bateu o carro que pegara do pai sem autorização. Aos 15 iniciou sua trajetória no Banco do Brasil, como menor aprendiz. Aos 17 anos, prestes a se mudar para Porto Alegre com a família, tornou-se pai. Aos 18 anos ingressou como efetivo no mesmo Banco do Brasil através de concurso público. Já como menor aprendiz, frequentava o movimento estudantil e sindical na serra gaúcha, aproximando-se de diversos movimentos políticos ligados à gênese do Partido dos Trabalhadores. Também aos 18 anos ingressa no Curso de Direito da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS).

Atuou intensamente no Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, onde comandou greves e atuou sob a liderança de nomes como Olívio Dutra e companheiros como Sérgio “Jacaré” Metz (falecido letrista do grupo Tambo do Bando), em plena efervescência do movimento sindical dos anos 80 – que viriam desencadear a primeira candidatura de Lula à Presidência. Em meio à disputa eleitoral no segundo turno da eleição de 89, Luís Antônio Maia – mais conhecido pelos companheiros como Maia – cunhou o célebre slogan “Brizola no Coração, Lula lá” mobilizando eleitores do campo progressista num dos poucos estados onde Collor não vencera a eleição. Aos 23 anos de idade, Maia era o mais jovem coordenador do DIEESE até então. Foi também Secretário Geral do Sindicato dos Bancários e Diretor da Executiva da CUT entre os anos de 1989 e 1991.

Mudou-se para Brasília ainda nos anos 90, para fundar o GAREF: Gabinete dos Representantes dos Funcionários. Retoma os estudos de Direito junto à Universidade de Brasília (UnB), e formado deixa o banco para assumir a trajetória de advogado combativo junto às Federações de Sindicatos e associações de Fundos de Pensão, tornando-se referência também em Direito Previdenciário. Funda o escritório “Castagna Maia Advogados Associados” e inova ao adotar o contato direto com os clientes através do primeiro blog de escritório de Advocacia no Brasil, também caracterizado como um espaço de opinião, discussão e poesia – uma das suas grandes paixões.

Luís Antônio Castagna Maia sempre foi um leitor voraz e inquieto, constituindo sua base de pensamento desde Pontes de Miranda e Padre Antonio Vieira, passando pelos grandes poetas brasileiros como Vinícius de Moraes, Mário Quintana e Carlos Drummond de Andrade, seu preferido.  Leituras numerosas e profundas. São lembradas pelos amigos suas intensas interpretações de poemas como “A Flor e a Náusea”, “Os Ombros Suportam o Mundo”, “A Bruxa”, dentre tantos outros poemas do mestre itabirano recitados de memória, como uma partitura construída de forma consistente e bastante própria. Densa e encantadora.

Ainda no âmbito das artes, tinha formação e ouvido musical apurado, tendo estudado violão erudito durante a infância na cidade de Vacaria/RS – uma das tantas cidades pelas quais passou. Dono de uma cultura musical invejável, também se aventurava com êxito ao cantar tangos, habilidade adquirida nas boêmias casas noturnas de Porto Alegre nos tempos de sindicato. Cambalache, Vuelvo al Sur, Balada para un Loco e Por una Cabeza, figuravam no repertório deste apaixonado pelo eixo Buenos Aires – Paris, tal como Astor Piazzolla, seu predileto. Seus dentes - mais separados na frente - lhe possibilitavam um assovio grave e airoso, acionado como recurso para lembrar de alguma melodia antes de entoar lindamente uma letra completa. Quando não assoviava, sorria. Quando não sorria, brandia contra a injustiça. Sabia também ser irônico e ácido quando necessário. Sabia como ninguém ser amoroso e gentil. Seu humor era perspicaz e espirituoso. Sua franqueza, fatal.

Estudioso e obsessivo com os livros, Maia era detentor de grande poder retórico e criatividade. Suas argumentações e petições jurídicas apresentavam por vezes vários tomos encadernados. Cada causa, uma tese. Cada tese, uma paixão. Nunca advogou a contragosto ou sem profunda convicção. Defendeu a saúde dos bancários, assolados pela L.E.R – Lesões por Esforços Repetitivos, grande mal da categoria. No âmbito da previdência complementar, defendeu aposentados e pensionistas do olhar fraudulento de diretorias e governos, que viam nos Fundos de Pensão a possibilidade de captação imoral de recursos à custa do labor alheio. Defendeu Petroleiros, Comerciários, Bancários e Aeronautas de forma incansável. Denunciou a privatização de plataformas de Petróleo. Analisava a conjuntura nacional a cada movimento. Dormia pouco, mas sonhava muito.

Luís Antônio Castagna Maia nos deixa, na flor de seus intensos 47 anos, vítima de um câncer fatal, diagnosticado no dia 11 de setembro de 2009. Desta vez, foi uma torre brasileira que sofreu o atentado. Mas ruiu aos poucos e caiu de pé. Uma torre em queda, mas um farol que ainda ilumina a vida de milhares de pessoas de todas as partes do Brasil. Um farol que nos ensina o valor da vida e da dignidade humana. Uma luz que não se apaga.

Com muita dor, muito amor e as melhores memórias,
Seus Amigos e Familiares

Brasília, 14 de janeiro de 2012.