DOUTORADO

domingo, março 27

Publicação 27 de março

ALDEIA


por Juarez Fonseca




78 minutos de grande música



Antes do show do André Mehmari Trio,quarta-feira próxima no Theatro São Pedro, podemos preparar os ouvidos ouvindo Gismontipascoal – A música de Egberto e Hermeto, seu segundo disco com Hamilton de Holanda, lançado há pouco. Eles são, hoje, talvez os mais completos músicos do Brasil em seus instrumentos. Mehmari toca um piano que impressiona pela precisão, a delicadeza, a elegância, o colorido, o frescor. Hamilton e seu bandolim de dez cordas (“inventado” por ele) chegam a alturas de qualidade e expressão que superam qualquer outro nome desse instrumento. São brilhantes, e têm a ousadia e a disposição irrefreável dos jovens. É preciso ter muita confiança para, ao homenagear os mestres, postar-se à altura deles,dois de nossos mais complexos, personais e sofisticados compositores. O disco é feliz desde o trocadilho do título, que remete ao primeiro pedaço de terra avistado por Cabral em 1500, no descobrimento do Brasil. Mais do que no primeiro disco da dupla (Contínua Amizade, 2007), piano e bandolim conseguem aqui uma interação que aos meus ouvidos soa perfeita. Mesmo sendo instrumentos tão incomuns para duo, eles se entendem como se tivessem nascido juntos. Não há sobreposições, nenhum aparece mais que o outro, ambos se identificam 100% e isso é o que vale. Seja para músicas mais rápidas, como, de Hermeto, o choro Bebê e a “nordestina” Santo Antônio, e mais lentas, como as de Gismonti Memória e Fado e a reflexiva Fala a Paixão, em que ele participa ao violão. Em temas particularmente “difíceis”, como Intocável (Hermeto) e Frevo (Gismonti), não é diferente. A grande música jorra durante 78 minutos, desde a primeira parceria da dupla, a bela composição que dá título e abre o álbum, repetida ao final com outro arranjo, passando por dois temas deles para os homenageados, até composições mais conhecidas como Palhaço (Gismonti). Música das Nuvens e do Chão, de Hermeto, com a presença do Bruxo fazendo de tudo (percussão na mesa, trombone de boca etc), fecha um disco do tipo raro. A capa tem um desenho do acervo da famíliaPortinari; lançamento do selo Brasilianos. Mas o show no Theatro São Pedro (“Adoro aquele piano”, diz Mehmari) é outra história, não tem bandolim: o jazz-trio, com Zé Alexandre no baixo e Sérgio Reze na bateria, tocando as músicas do inédito disco Afetuoso, que no final de abril eles vão lançar no Japão. Às 21 horas, de 20 a 60 reais, infos 3227-5100.

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