DOUTORADO

segunda-feira, janeiro 7

Um ano da Morte do Centauro


Um ano da Morte do Centauro


I
Acordei cedo. Não porque quisera. Acordei de sobressalto. De pesadelo.

II
Acordei porque no sonho, um apartamento pegou fogo. No sonho eu estava falando com um jornalista bastante conhecido no RS, ao vivo, durante um festival de cinema. Era um condomínio, semelhante à minha casa em Pelotas e havia muita gente no estacionamento, sentados em cadeiras de praia para assistir às projeções de filmes do Concorrentes ao Festival de Gramado, daquele ano. Eu era um comentarista improvisado, como se o jornalista estivesse escolhido desesperadamente alguém do público para poder interagir. Mas eu estava tranqüilo e alegre com a tarefa, e ele parecia satisfeito. O ambiente não era dos melhores, um pouco confuso, começou a ficar difícil a conversa – que estava sendo transmitida pelo rádio. No folder havia seis filmes na primeira página. Deviam ter mais uns dez filmes para comentar. Uns dois brasileiros, sendo um deles gaúcho na mostra de longas.

III
A conversa vai ficando impossível devido ao ruído do público no intervalo dos filmes. Neste momento estamos comentado justamente o filme gaúcho. O jornalista se levanta e vai em direção ao público, um pouco como que buscando atenção e depoimento – mais a título de conseguir algum silêncio. Então, permaneço sozinho com o microfone na mão, improvisando alguma coisa. Neste momento ouço uma voz conhecida que grita, que utiliza um diminutivo bastante familiar “Le – fogo no prédio”. Olho para um dos apartamentos e fico apavorado: Vêm-se as chamas internas. Grito “Bombeiro! 191!” – no sonho era esse o número, não sei se confere com o real – e passo a acompanhar apavorado o que ocorre.

IV
Antes disso, no sonho, havia recebido meu irmão em casa, durante a tarde. Eu, pelo jeito, trabalhava no audiovisual de algum sindicato, e ele apareceu com uma menina do cinema, mais precisamente a Têmis, do Coletivo Catarse. Alguma produção para o sindicato, mas possivelmente também algum flerte. Eu estava pelado em casa quando chegaram de supetão.  Tive que por as bermudas correndo, me desviando da janela para que não me vissem – já que no sonho eu morava num apartamento térreo, próximo à garagem. Meu irmão chegou a me ver de cueca, acho que a menina também, mas consegui fazer daquelas manobras conhecidas de abrir a porta e sair correndo, deixando aberta para que eles entrassem. Nisso, corta e retorna à cena do Festival de Gramado no Condomínio de Pelotas.

V
O festival de cinema era uma mistura braba. Parecíamos estar na Andradas, em Porto Alegre, na esquina democrática. Mas era também o lugar onde moro, em Pelotas e, seguramente, era também o Festival de Cinema de Gramado, só que na rua. Era uma grande e solene projeção ao ar livre. Uma inauguração da mostra competitiva de longas. Não sei se estávamos vendo os filmes propriamente ditos ou os trailers, com a função de comentar e introduzir os participantes junto ao grande público. Na verdade quem nos ouvia era o público do rádio, e não o público presente.

VI
 “Fogo!”. Nisso, o alvoroço a necessidade de tentar ajudar. Vi pessoas saindo do prédio. Poucas. Na verdade o primeiro apartamento em chamas parecia abandonado – menos mal. As pessoas no estacionamento do prédio deixando o local. “Fogo! Bombeiros 191”. Mas o fogo começou a ficar incontornável e logo todo o bloco estava em chamas em poucos segundos. “Vai tomar conta do condomínio todo” - pensei. Nisso, vem a Maria correndo, sozinha, de bolsa e boina e me pergunta “E as coisas? E o Fuca?”. Percebo que ela deu conta de salvar o que podia do apartamento – algum documento ou dinheiro – e passei a me preocupar com o Fusca na garagem. Meu desespero foi grande. O Fuca era muito importante. Tinha que conseguir salvá-lo. De repente, estou num condomínio mais complexo, mas andares, elevadores. Por algum motivo não posso ser visto, tenho que me esconder, mas posso contar com uma ou duas pessoas de confiança que me ajudam, mesmo sem saber dos meu objetivos. Não há mais risco de incêndio, mas o risco de ser pego pela polícia. Tenho medo de ser pego, no sonho. Consigo chegar ao Fuca. Existem pessoas amigas. Consigo entrar no Fuca e dar a partida.

VII

Acordo chorando. Faz exatamente um ano, em 07 de janeiro de 2013, que peguei um avião em Florianópolis rumo a Brasília, para ver meu irmão que estava na CTI do Hospital Brasília, no Distrito Federal. Minha irmã me comunicou da situação. Outra irmã recomendou que não fosse. Fui. Ao chegar, tive a sorte de poder visitar meu irmão, já no quarto, não mais na dura CTI. Foi meu último encontro com ele vivo. Ficamos sábado e domingo juntos. Estava feliz e triste em estar ali. Feliz por vê-lo no quarto, e não na CTI. Triste com as notícias. Eu já andava triste à beça pela pouca conversa que passamos a ter nos últimos tempos, como se meu irmão me preservasse – como preservou a todos de sua real situação. Triste pela iminência de que aquele fosse o último encontro. Estávamos Ana, Carol e Lauro. “Eu te amo”, foram as palavras de despedida do meu irmão pra mim. Não é algo que tenhamos o costume de fazer, portanto é de um significado considerável. Aquilo me fez um bem danado. Mas também era um alerta. Retornei a Pelotas, para o Festival de Música. Meu irmão faleceu uma semana depois.

VIII

Agora um pouco de interpretação e autoterapia. A Têmis é muito parecida com a Ana, mulher de meu irmão. O Mano estava com a Ana. Não sei o motivo de estar de cueca no momento de sua chegada - coisa de sonho. O Festival do sonho era o Festival de Música do SESC, meu irmão faleceu em meio ao Festival – que foi bastante duro e penoso para mim. Logo chega a nova edição do Festival, com abertura bem no dia de seu falecimento. O Fuca foi um presente que recebi do meu irmão e o representa, de certa forma. O fogo é o câncer. A relação com o cinema me deixou mais curioso.

XIX
Mas o cinema tem sentido no sonho. Lembro-me que, ao deixar o Banco, antes de formar-se em advocacia, meu irmão escrevia roteiros e tinha uma empresa individual dedicada a soluções estratégicas e ideias. Chamava-se “Quíron – Inteligência e Comunicação”. A Quíron segurou as pontas até que meu irmão concluísse sua graduação em Direito na UNB, iniciada há muitos anos na PUC e deixada de lado em função da vida sindical no Banco do Brasil. Vale lembrar que foi a nobreza da morte de Quíron que possibilitou aos homens terem acesso ao fogo. Sua imortalidade de titã foi trocada pela vida de Prometeu, condenado por ter roubado o fogo sagrado. Zeus afirmou que apenas libertaria Prometeu se um imortal abrisse mão sua imortalidade. Quíron abriu mão de sua imortalidade, sendo homenageado por Zeus com a constelação de Sagitário. Luís Antonio Castagna Maia, sagitariano, deve habitar estas paragens celestes, como um o último centauro sagrado que conhecemos.

X
Vale buscar a simbologia de Quíron e admirar-se com as semelhanças do Guerreiro Artista com o Mano.
O diriam os psicanalistas de plantão?

http://pt.wikipedia.org/wiki/Quíron

sexta-feira, janeiro 4

Pé na Areia!!




Para o primeiro fim de semana de 2013, uma prévia do Mandinho - disco que lançaremos em março

https://soundcloud.com/mandinho/p-na-areia

Com vocês, Pé na Areia, um baião milonga com Kako Xavier - participação especial - voz e tambores de Maçambique, Sérgio Sergio Olive esmirilhando na gaita escocesa, Thiago Colombo de Freitas, quebrando tudo no violão, Miguel Tejera, no baixo paulada e Luke Faro na bateria virtuosa. Este humilde servo que vos escreve canta e toca tambores de maçambique!



Pode vir 2013!! Que venha o Mandinho!!


Tem que botar o Pé na Areia!!