DOUTORADO

sábado, dezembro 14

Breve Reflexão Sem Comentários



Breve Reflexão Sem Comentários.





Em arte, forma é conteúdo.
Em política, método é mérito.
Se em arte, conteúdo sem forma, é inocência estética
Em política, mérito sem método é inocência ética

Se a forma contamina o conteúdo - e se for realmente possível separar um do outro - 
O método contamina o mérito.

Ou seja:
Política é a arte de conciliar mérito e método.
Um erro de método é um erro político.
Mesmo que o mérito esteja correto.
Mas um acerto de mérito não implica necessariamente um acerto político, eis um problema ético.
É preciso que sejamos éticos
É preciso tenhamos métodos
Para fazer política
É preciso que tenhamos fígado.
É preciso que tenhamos méritos.
É preciso que sejamos dignos .
É preciso que tenhamos cérebro.



Leandro Maia
Dezembro de 2013

sábado, novembro 2

Canção por um Triz - texto convite para o Núcleo de Estudos da Canção

Canção por um Triz

            Há  alguns bons anos venho me debatendo, batendo, lendo, cantando e fazendo canção brasileira. Tenho uma teoria íntima a respeito desta nossa forma tão querida de versar sobre a vida, que é mais ou menos assim: se a sinfonia é alemã, a ópera é italiana, a poesia é francesa, o romance é russo e os contos são americanos, a canção é brasileira.  Digo isto sem medo de incorrer em falso testemunho. Junte-se a isso a nossa tradição lírica ibérica, com a sonoridade brasileira tupi, banta e ioruba e suas respectivas visões de mundo, e teremos uma língua de rica sonoridade, grande conteúdo reflexivo, equilíbrio entre vogais, consoantes, nasalidades e vocalizações diversas. Além disso, junte a tradição percussiva e dançante africana e toda imigração europeia, asiática, moura e do oriente médio, além do diálogo com outras culturas americanas, sejam do norte, Caribe, ou Conesul. Paremos por aqui, ainda sem citar a nossa própria tradição cancionista, tão rica, vasta e diversa.
            Muito já escreveu sobre canção, embora ainda pareça muito pouco. Parece menos ainda quando nos deparamos com trabalhos como TRIZ,  que  André Mehmari, Chico Pinheiro e Sérgio Santos nos apresentam em parceria com o Departamento de Difusão Cultural da UFRGS, Núcleo de Estudos da Canção  e o patrocínio da Natura Musical. Este trio, na verdade, é a reunião de uma constelação de alguns dos maiores nomes da música brasileira da atualidade, em diferentes matizes: canção, música instrumental e música erudita – como se fosse possível fazer esta separação hoje em dia.  E é disto que se trata estre trabalho, de uma reunião de artistas de grande quilate, sem preocupação em algemar as criações neste ou naquele gênero.
Em todo o disco, aparecem apenas duas canções com letra, curiosamente intituladas “Sim” e “Não”. E agora? É canção? É música instrumental? Sim ou Não? Aqui, sim, um debate que parece fadado ao fracasso. Isto porque se entendemos canção como uma peça musical feita com letra e música em palavras que contam uma história com início, meio e fim, nosso conceito de canção já era. E, por outro lado, se entendemos música instrumental como uma derivação de “música pura”, aquela que prescinde da voz humana, por um triz deixa de ser música instrumental, pois TRIZ é pleno de vozes, vocais, vocalizações sem palavras. Aliás, melodias plenamente cantáveis, em extensão vocal confortável, plenamente adequadas para a voz humana – aliás como muitos temas “instrumentais”, do choro de Pixinguinha aos tangos do Piazzolla. Difícil dizer que não é canção, em minha modesta opinião. Mas são canções sem palavras. Canção de melodia e voz. Já tentaram letrar “Libertango” do Piazzolla? Convenhamos que seria um sacrilégio. O mesmo ocorre com as canções do Triz. Uma palavra mal posta pode complicar a intricada arquitetura que ali se apresenta, fechando em um significado determinado que não é necessário. Por outro lado, a palavra bem posta abre diversos mundos. Tem uma pesquisadora, a Janete El Haouli, que chama isto de “voz-música”, ou seja, a voz que não se deixa aprisionar pelas palavras. Acho que é um bom ponto de partida.
Como cancionistas que não aceitam as fronteiras cada vez mais falsas entre música erudita e música popular, entre canção e música instrumental, estamos aqui com um belo problema por resolver e contemplar. Aliás, não sei se é intencional por parte de André, Chico e Sérgio, mas curiosamente andei “googlando” por aí e vi que TRIZ também é a sigla de Teoria Rechenia Izobretatelskih Zadatchi, que em russo significa Teoria da Resolução de Problemas Inventivos. Que os problemas inventivos sigam apontando belos caminhos para a música brasileira.

Leandro Maia.


Sobre o TRIZ:

http://www.youtube.com/watch?v=ZHy5egQpB84



sexta-feira, junho 21

Breve reflexão sobre a PEC 37 e as cinco causas anônimas.

Breve reflexão sobre a PEC 37 e as cinco causas anônimas.

1)
            A primeira causa das cinco causas manifestas de forma “direta, sem polêmicas de cunho religioso ou ideológico” do movimento Annonymous – ente, como o próprio nome diz, anônimo que se pretende porta-voz dos movimentos espontâneos no Brasil e no mundo diz “Não à PEC 37”. A quinta causa trata de “fim do foro privilegiado” para políticos.

2)
            Acho importante olharmos com calma as tais cinco causas unânimes de cunho moral. Em primeiro lugar, acho curioso que “Não à PEC 37” seja precisamente a primeira causa. Segundo, em minha opinião, existe uma contradição prática entre a primeira e a quinta causa advogada pelo Annonymous. (vide http://www.otempo.com.br/capa/brasil/grupo-anonymous-brasil-divulga-v%C3%ADdeo-defendendo-cinco-causas-para-manifesta%C3%A7%C3%B5es-1.666650 )

3)
            Ou queremos igualdade de julgamento e indiciamento de todos os cidadãos OU defendemos o fim do foro privilegiado. Não quero tratar levianamente do termo “foro privilegiado” – que trata do direito de políticos de serem julgados em instâncias diferentes da primeira instância, como é o caso dos demais cidadãos. Mas o fato é que além do foro privilegiado muitas vezes os políticos também contam com processo investigativo privilegiado, quando é feito pelo Ministério Público, e não pela polícia – como seria o caso de todos os cidadãos. Cabe ressaltar que o Ministério Público costuma manifestar-se predominantemente em casos de cunho político ou grandes escândalos nacionais, tais como o dito “Mensalão”, que vivenciamos recentemente.

4)
            Aqui uma reflexão importante: mesmo não sendo advogado, mas um cidadão atento, para mim é evidente a sucessão de erros cometidos pelo MP durante o indiciamento do processo do Mensalão. Um deles é o grande número de acusações sem provas materiais – eis o motivo pelo qual os Ministros do STF optaram pela Teoria do Domínio do Fato, uma forma de poder condenar os acusados sem que haja a vinculação direta e provada através de elementos materiais, e não somente testemunhos ou acareações. Neste sentido, a inoperância do poder de investigação do Ministério Público foi flagrante e é sobre esta incompetência investigativa que se amparam os defensores dos condenados. Ou seja, se os condenados ainda não foram para a cadeia, grande responsabilidade é do próprio MP, que não realizou investigação suficiente, atrasando o julgamento nos debates sobre o “domínio do fato”.

5)
Outro erro gravíssimo do Ministério Público, se é que podemos chamar de “erro”, é a omissão de indiciamento de figuras centrais no esquema, como é o caso de Daniel Dantas que, ao que tudo indica, participou ativamente do esquema. Isto foi  comprovado através de cópias de contratos e de transações de recursos do VisaNet, que chegam a somar milhões de reais. Vide a excelente matéria (http://www.jornalggn.com.br/blog/procurador-geral-que-livrou-dantas-do-mensalao-ganhou-contrato-da-brasil-telecom#.UbsnpNMygVd.twitter ) . Transcrevo aqui o trecho: “Excluindo Dantas, não haveria como justificar o fluxo de pagamentos aos mensaleiros. Todos os absurdos posteriores decorrem dessa falha inicial, de tapar o buraco do financiamento, depois que Dantas foi excluído do inquérito.”

6)
Ou seja, foi o próprio Ministério Público que omitiu as transações que incriminariam Dirceu e os demais “mensaleiros”.  É este MP que desejamos que seja investigador? Ora, “cachorro que tem dois donos morre de fome”, como diria meu pai. Ou seja, estando o poder de investigação diluído entre várias instituições entre Polícias e MP, a possibilidade de “grandes erros” investigativos tende a continuar ou crescer, isto porque o MP não tem, como pudemos ver no caso do Mensalão, competência para realizar investigações. A outra notícia curiosa é o fato do escritório de advocacia do antigo Procurador Geral, Antônio Fernando, que iniciou as investigações, ter sido contemplado com contrato de representação da Brasil Telecom, de Dantas, conforme a matéria: Pouco depois de se aposentar, Antônio Fernando tornou-se sócio de um escritório de advocacia de Brasília - Antônio Fernando de Souza e Garcia de Souza Advogados -, que tem como principal contrato a administração da carteira de processos da Brasil Telecom, hoje Oi, um dos braços de Dantas no financiamento do mensalão.

7)        
Precisamos abrir nossos olhos ao Annonymous, um assunto complexo como  a PEC 37 está longe de representar um grande tema de cunho moral comum a todos os cidadãos. Com Procuradores Gerais do calibre de Antonio Fernando e Roberto Gurgel – este último querido da Revista Veja – não tenho como fazer oposição à PEC 37. Quero que as investigações sejam feitas pela Polícia e os processos contem com ampla defesa, provas concretas e materiais e, sim, fiscalização do MP às investigações. Negando a PEC 37 estamos mantendo o foro privilegiado aos políticos e grandes empresários deste país.

8)
Minha desconfiança com o Annonymous iniciou quando acessei um vídeo de resposta ao Arnaldo Jabor – constantemente equivocado colunista – onde o grupo fazia diversas considerações importantes sobre a questão das passagens, mas criticava de passagem a vinda de médicos estrangeiros ao Brasil. http://www.youtube.com/watch?v=BwTSaTKt0l4. Vale prestar atenção ao final do vídeo onde ocorrem críticas ao bolsa família, típica de setores conservadores. Ora, acho muito estranho numa mesma passeata termos cartazes pela melhoria dos atendimentos e contrários às enormes filas do SUS ao mesmo tempo em que outros manifestantes se dizem contrários à vinda de médicos cubanos para atender regiões carentes brasileiras. Fiquemos atentos ao Annonymous para não sairmos do tom. Da mesma forma acho estranho solicitar igualdade de julgamento a todos os cidadãos e defender os privilégios investigativos ao Ministério Público. Que as manifestações sigam com os lindos avanços que estamos vendo no âmbito das tarifas de transporte público e pela real mudança no país. Mudança tem nome, não é anônima. Vamos prestar atenção à apropriação dos movimentos legítimos por causas que não interessam a todos os cidadãos. A galera tem que se ligar.


Leandro Maia, músico e professor universitário

sexta-feira, abril 5

Mandinho Chegou!! Valeu Procultura! Valeu Pelotas!


Mandinho Chegou!! Valeu Procultura! Valeu Pelotas!


Agora, sim. O Mandinho chegou. O CD – suporte físico – faz uma falta bárbara e minha ansiedade não cabia mais em mim. Com previsão para chegar na primeira quinzena de março, vi o disco somente hoje, dia 04 de abril.

Os atrasos no Mandinho não são nenhuma novidade. O projeto, assim como todos os demais contemplados no mesmo edital atrasaram quase um ano para receber os devidos repasses. Não seria diferente na última etapa – a da fabricação. Isso porque, com a fusão de duas grandes empresas fabricantes de CD gerou-se uma grande confusão e os discos a serem entregues em até 45 dias levaram praticamente três meses. Uma pequena amostra do momento da indústria fonográfica. Não conheço nenhum disco realizado entre 2011 e 2013 que não tenha sofrido atrasos de entrega. Sobretudo os independentes, esses pequenos empresários, produtores e artesãos da música que teimam em continuar produzindo. Tal foi o atraso, no caso do Mandinho, que deu tempo de desenvolver paralelamente um aplicativo Mobile – lançado antes mesmo do CD, de modo a não perder as reflexões sobre a Páscoa que aparecem no disco. Mas nada subsitui a materialidade do CD.

Nada substitui chegar em casa e ver caixas amontoadas com discos envoltos nos plásticos sem saber onde guardá-los em meu apartamento pequeno. A arte está maravilhosa! Estou absolutamente orgulhoso e comovido com o trabalho – modestia à parte e bem longe.  Mas tenho absoluta tranquilidade em elogiar, justamente porque não o fiz sozinho. Contém com o que há de melhor deste mundo em termos de recursos humanos. Não há como não ter fé nas pessoas depois de um trabalho como este, onde todo mundo se envolveu muito. Não nenhuma nota cantada ou tocada de forma displicente ou burocrática. Nenhum traço que não mereça um elogio.

            E não escrevo para me queixar do atraso, não. Na verdade estou comemorando os atrasos. Em meu caso específico, vários fatores de minha vida pessoal comemoraram os primeiros atrasos, as dinâmicas incontornáveis da vida, ganhos e perdas, lutas. Mandinho passou pela morte do meu irmão, pela maior greve das Federais nos últimos tempos, pela construção – ainda em processo – da nossa casa. Mandinho foi contaminado pela minha turnê pela Costa Rica. Se não tivesse atrasado, não teríamos a Costa Rica no disco! Não imagino o Mandinho sem a Costa Rica no disco. Se eu pudesse planejar este atraso, o teria feito com toda a certeza. Projeto antigo, Mandinho soube receber as influências musicais mais recentes. Pude contar histórias antigas do tempo de professor de educação infantil e cantar as criações mais recentes, feitas quase em estúdio. Pude exercitar parcerias de letra, música e arranjo com gente maravilhosa. O Mandinho é uma cópia fiel do meu momento de vida: meu estabelecimento definitivo em Pelotas, meu amadurecimento como pai, educador e músico, minha estréia como produtor. Minha teimosia. Sobretudo minha condição de cidadão do mundo, minha absoluta fé nesta humanidade que me cerca mais proximamente, ainda que a léguas de onde me encontro.

Gente boa demais por toda parte. Mandinho foi gravado em Pelotas, Porto Alegre, São Paulo e San José da Costa Rica, com gente de todas as partes do Brasil e da América Latina: no disco temos uruguaios, argentinos, costarricenses, paulistas, mineiros, fluminenses, matogrossenses, baianos, além da gauchada. Pessoas foram se incorporando ao trabalho e acreditando no projeto – que agora está se tornando um espetáculo com bonecos, com um grande lançamento previsto para o segundo semestre deste ano. É praticamente impossível agradecer nominalmente todos os colaboradores neste breve post.
           
Não é apenas no nome que o Mandinho é pelotense. Ele foi financiado pela cidadania de Pelotas. Todos os cidadãos da cidade deveriam ter seu nome inscrito nos agradecimentos do encarte do disco. Ainda que o disco, na ponta do lápis, tenha ultrapassado consideravelmente o valor financiado – por razões sobretudo estéticas – é certo que sem os aportes do PROCULTURA este trabalho sequer existiria. Que a logomarca do Procultura e da Prefeitura de Pelotas seja mais do que uma mera formalidade, mas tenha esta conotação de agradecimento a todos os cidadãos, um profundo agradecimento a esta cidade que abriga minha adultice e ao mesmo tempo minha infância. A você, que está lendo este texto, meu “Muito obrigado!”






 Alguns Mandinhos no sofá de casa.

sábado, março 23

Mandinho da Páscoa



A versão Aplicativo Mobile Mandinho 1.0 foi desenvolvida por Alexsandro Teixeira e já está disponível para iPhone (podendo ser baixado em iPads) e em breve para Android. Todas as canções receberam versão karaokê, além de maior interatividade de conteúdo. O trabalho tem distribuição física e virtual pela Tratore.

O disco Mandinho tem financiamento do Procultura – Programa de Apoio à Cultura da Prefeitura Municipal de Pelotas.



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PRESENTE DE PÁSCOA PARA AS CRIANÇAS: até o domingo 31 de março, a música Samba da Páscoa está disponível para download gratuito na página https://soundcloud.com/mandinho e no site www.mandinho.com.br (com versão karaokê)



Em Samba da Páscoa, canção composta na época em que Leandro era professor de Educação Infantil, a mensagem de paz e diversidade cultural é visitada com o ritmo brasileiro, lembrando que os portugueses chegaram ao Brasil justamente nesta época após a quaresma, “um mês e pouco após o carnaval”. A história é contada com o luxuoso piano de André Mehmari, com ares de Ary Barroso, em meio à percussão de escola de samba de Mimmo Ferreira e Edu Pacheco. Um verdadeiro samba-exaltação sobre o tema, desenvolvido como se fosse um enredo de passarela.



Confira a letra da faixa 2 de Mandinho:



SAMBA DA PÁSCOA (Leandro Maia) - BR-N40-12- 00002



Tem novidade que todo o ano se repete

Um mês e pouco após o carnaval

É coisa muito antiga, mas tem gente que esquece

O motivo desta data especial



O povo hebreu atravessou

A pé o antigo Egito sim senhor

Moisés com seu cajado especial

Movido a vento cruzou todo o litoral



Coelhinho da Páscoa, pra mim, o que trazes?

Só quero que o mundo faça as pazes

Coelhinho da Páscoa, o que trazes pra mim?

Só quero que essa briga tenha fim



É tempo de colher marcela

depois da plantação

No norte, primavera

Aqui não é mais verão



Dia do índio, Tiradentes, coisa e tal

Pindorama, paraíso, novidade tropical

Foi quando “Terra à vista” a Caravela de Cabral

Apelidou de Monte Pascoal



Na sexta-feira: peixe

Na quinta-feira: pão

No sábado: marmelo não é

Varinha de Condão



Na sexta-feira: peixe

Na quinta-feira: pão

Domingo tem churrasco

De carneiro no galpão



Coelhinho da Páscoa, pra mim, o que trazes?

Só quero que o mundo faça as pazes

Coelhinho da Páscoa, o que trazes pra mim?

Só quero que essa briga tenha fim



André Mehmari – piano

Edu Pacheco – repinique, caixa e tamborins

Mimmo Ferreira – surdo e tamborins

Leandro Maia – voz e violão


Solicitações de entrevista, fotos em alta resolução e mais informações com:

--
Caroline da Silva

Carol Zatt Assessoria de Imprensa
carolinezatt@gmail.com
(51) 9737-7031
https://www.facebook.com/carol.zatt.7



segunda-feira, janeiro 7

Um ano da Morte do Centauro


Um ano da Morte do Centauro


I
Acordei cedo. Não porque quisera. Acordei de sobressalto. De pesadelo.

II
Acordei porque no sonho, um apartamento pegou fogo. No sonho eu estava falando com um jornalista bastante conhecido no RS, ao vivo, durante um festival de cinema. Era um condomínio, semelhante à minha casa em Pelotas e havia muita gente no estacionamento, sentados em cadeiras de praia para assistir às projeções de filmes do Concorrentes ao Festival de Gramado, daquele ano. Eu era um comentarista improvisado, como se o jornalista estivesse escolhido desesperadamente alguém do público para poder interagir. Mas eu estava tranqüilo e alegre com a tarefa, e ele parecia satisfeito. O ambiente não era dos melhores, um pouco confuso, começou a ficar difícil a conversa – que estava sendo transmitida pelo rádio. No folder havia seis filmes na primeira página. Deviam ter mais uns dez filmes para comentar. Uns dois brasileiros, sendo um deles gaúcho na mostra de longas.

III
A conversa vai ficando impossível devido ao ruído do público no intervalo dos filmes. Neste momento estamos comentado justamente o filme gaúcho. O jornalista se levanta e vai em direção ao público, um pouco como que buscando atenção e depoimento – mais a título de conseguir algum silêncio. Então, permaneço sozinho com o microfone na mão, improvisando alguma coisa. Neste momento ouço uma voz conhecida que grita, que utiliza um diminutivo bastante familiar “Le – fogo no prédio”. Olho para um dos apartamentos e fico apavorado: Vêm-se as chamas internas. Grito “Bombeiro! 191!” – no sonho era esse o número, não sei se confere com o real – e passo a acompanhar apavorado o que ocorre.

IV
Antes disso, no sonho, havia recebido meu irmão em casa, durante a tarde. Eu, pelo jeito, trabalhava no audiovisual de algum sindicato, e ele apareceu com uma menina do cinema, mais precisamente a Têmis, do Coletivo Catarse. Alguma produção para o sindicato, mas possivelmente também algum flerte. Eu estava pelado em casa quando chegaram de supetão.  Tive que por as bermudas correndo, me desviando da janela para que não me vissem – já que no sonho eu morava num apartamento térreo, próximo à garagem. Meu irmão chegou a me ver de cueca, acho que a menina também, mas consegui fazer daquelas manobras conhecidas de abrir a porta e sair correndo, deixando aberta para que eles entrassem. Nisso, corta e retorna à cena do Festival de Gramado no Condomínio de Pelotas.

V
O festival de cinema era uma mistura braba. Parecíamos estar na Andradas, em Porto Alegre, na esquina democrática. Mas era também o lugar onde moro, em Pelotas e, seguramente, era também o Festival de Cinema de Gramado, só que na rua. Era uma grande e solene projeção ao ar livre. Uma inauguração da mostra competitiva de longas. Não sei se estávamos vendo os filmes propriamente ditos ou os trailers, com a função de comentar e introduzir os participantes junto ao grande público. Na verdade quem nos ouvia era o público do rádio, e não o público presente.

VI
 “Fogo!”. Nisso, o alvoroço a necessidade de tentar ajudar. Vi pessoas saindo do prédio. Poucas. Na verdade o primeiro apartamento em chamas parecia abandonado – menos mal. As pessoas no estacionamento do prédio deixando o local. “Fogo! Bombeiros 191”. Mas o fogo começou a ficar incontornável e logo todo o bloco estava em chamas em poucos segundos. “Vai tomar conta do condomínio todo” - pensei. Nisso, vem a Maria correndo, sozinha, de bolsa e boina e me pergunta “E as coisas? E o Fuca?”. Percebo que ela deu conta de salvar o que podia do apartamento – algum documento ou dinheiro – e passei a me preocupar com o Fusca na garagem. Meu desespero foi grande. O Fuca era muito importante. Tinha que conseguir salvá-lo. De repente, estou num condomínio mais complexo, mas andares, elevadores. Por algum motivo não posso ser visto, tenho que me esconder, mas posso contar com uma ou duas pessoas de confiança que me ajudam, mesmo sem saber dos meu objetivos. Não há mais risco de incêndio, mas o risco de ser pego pela polícia. Tenho medo de ser pego, no sonho. Consigo chegar ao Fuca. Existem pessoas amigas. Consigo entrar no Fuca e dar a partida.

VII

Acordo chorando. Faz exatamente um ano, em 07 de janeiro de 2013, que peguei um avião em Florianópolis rumo a Brasília, para ver meu irmão que estava na CTI do Hospital Brasília, no Distrito Federal. Minha irmã me comunicou da situação. Outra irmã recomendou que não fosse. Fui. Ao chegar, tive a sorte de poder visitar meu irmão, já no quarto, não mais na dura CTI. Foi meu último encontro com ele vivo. Ficamos sábado e domingo juntos. Estava feliz e triste em estar ali. Feliz por vê-lo no quarto, e não na CTI. Triste com as notícias. Eu já andava triste à beça pela pouca conversa que passamos a ter nos últimos tempos, como se meu irmão me preservasse – como preservou a todos de sua real situação. Triste pela iminência de que aquele fosse o último encontro. Estávamos Ana, Carol e Lauro. “Eu te amo”, foram as palavras de despedida do meu irmão pra mim. Não é algo que tenhamos o costume de fazer, portanto é de um significado considerável. Aquilo me fez um bem danado. Mas também era um alerta. Retornei a Pelotas, para o Festival de Música. Meu irmão faleceu uma semana depois.

VIII

Agora um pouco de interpretação e autoterapia. A Têmis é muito parecida com a Ana, mulher de meu irmão. O Mano estava com a Ana. Não sei o motivo de estar de cueca no momento de sua chegada - coisa de sonho. O Festival do sonho era o Festival de Música do SESC, meu irmão faleceu em meio ao Festival – que foi bastante duro e penoso para mim. Logo chega a nova edição do Festival, com abertura bem no dia de seu falecimento. O Fuca foi um presente que recebi do meu irmão e o representa, de certa forma. O fogo é o câncer. A relação com o cinema me deixou mais curioso.

XIX
Mas o cinema tem sentido no sonho. Lembro-me que, ao deixar o Banco, antes de formar-se em advocacia, meu irmão escrevia roteiros e tinha uma empresa individual dedicada a soluções estratégicas e ideias. Chamava-se “Quíron – Inteligência e Comunicação”. A Quíron segurou as pontas até que meu irmão concluísse sua graduação em Direito na UNB, iniciada há muitos anos na PUC e deixada de lado em função da vida sindical no Banco do Brasil. Vale lembrar que foi a nobreza da morte de Quíron que possibilitou aos homens terem acesso ao fogo. Sua imortalidade de titã foi trocada pela vida de Prometeu, condenado por ter roubado o fogo sagrado. Zeus afirmou que apenas libertaria Prometeu se um imortal abrisse mão sua imortalidade. Quíron abriu mão de sua imortalidade, sendo homenageado por Zeus com a constelação de Sagitário. Luís Antonio Castagna Maia, sagitariano, deve habitar estas paragens celestes, como um o último centauro sagrado que conhecemos.

X
Vale buscar a simbologia de Quíron e admirar-se com as semelhanças do Guerreiro Artista com o Mano.
O diriam os psicanalistas de plantão?

http://pt.wikipedia.org/wiki/Quíron

sexta-feira, janeiro 4

Pé na Areia!!




Para o primeiro fim de semana de 2013, uma prévia do Mandinho - disco que lançaremos em março

https://soundcloud.com/mandinho/p-na-areia

Com vocês, Pé na Areia, um baião milonga com Kako Xavier - participação especial - voz e tambores de Maçambique, Sérgio Sergio Olive esmirilhando na gaita escocesa, Thiago Colombo de Freitas, quebrando tudo no violão, Miguel Tejera, no baixo paulada e Luke Faro na bateria virtuosa. Este humilde servo que vos escreve canta e toca tambores de maçambique!



Pode vir 2013!! Que venha o Mandinho!!


Tem que botar o Pé na Areia!!