DOUTORADO

terça-feira, dezembro 27

O AMOR É PSICOLÓGICO (Leandro Maia)

O AMOR É PSICOLÓGICO
Leandro Maia (Facebook/leandromaiaoficial)

O amor é psicológico
Não tem nenhum senso prático
Em parte é um evento esdrúxulo
Talvez algo peristáltico
De dia um momento lúdico
De noite um tormento mágico
Um trâmite antropológico
Um hábito antropofágico
O amor é psicológico
Conhecimento tácito

O amor é psicotrópico
Ou mesmo é um fitoterápico
Não há nenhum diagnóstico
Do amor quando ele é linfático
Invade o sistema límbico
Altera o hipotálamo
Afeta o sistema endócrino
Espalha-se metastático
Não há nenhum analgésico
Pro amor quando acaba rápido
O amor é psicológico
Até mesmo no semiárido
Não há lugar por mais inóspito
Aonde ele não seja cálido
O amor é meteorológico
Não mero fator climático
Ocorre no tempo úmido
Ou mesmo no mar antártico
O amor pode ser desértico
Fenômeno geográfico
O amor é psicológico
Se move no céu galáctico
Frequenta planetas míticos
E sóis no universo errático
Desfaz do mapa astrológico
Debocha das leis da náutica
O amor tem astral insólito
Se aloja entre as pás eólicas
O amor é psicológico
Mas cabe na cesta básica

PS: Nunca usei a palavra "amor" em minhas cançōes. Como diria o Drummond, pois resultou inútil. Então desaguei aqui. O poema está prometido para ser musicado, fica o mistério. Abraços e o melhor 2017 possível.

quinta-feira, dezembro 22

Viva a TVE e a FM Cultura

AGRADECIMENTO AOS AMIGOS DA TVE E FM CULTURA
A minha relação com as equipes de concursados da TVE e FM Cultura iniciou-se de forma protocolar. Um artista que visita as emissoras para falar do seu trabalho. Quero dizer que ao longo dos anos, este relacionamento se transformou em amizade, de minha parte movida pela profunda admiração. Amizade, admiração e amor.
A admiração e o orgulho que eu sempre tive desses funcionários estáveis, incorruptíveis, de extrema delicadeza, bom gosto e sabedores de enorme importância do seu papel.
E, se não bastasse competência e ética estarem de mãos dadas, o amor que esses meus amigos nutriram pela TVE e FM Cultura sempre foi contagiante. Amor pela comunicação, pelo jornalismo cultural. Amor pela música e pelas artes.
Esse amor é o que vocês deixam, meus amigos. O zelo e o carinho por algo muito maior do que nós. Nossas heranças, nosso capital simbólico, nosso compromisso.
A lágrima agora tem gosto de sal, mas o abraço tem a força do mar.
Amo muito vocês. Obrigado pelo que fizeram e pelo que vocês seguirão fazendo. Esse amor seguirá transformado e transformando. Eu sinto esse amor de vocês pelo trabalho. E é esse amor que é o perigo. É esse prazer pelo trabalho que querem acabar.
Seguiremos com indignação e luta. Mas o amor, o prazer e a delicadeza, ah, esses seguirão em nossa teimosia.
Muita força. Muito obrigado. Estamos juntos e a contribuição de vocês é inesgotável.
Aos mais próximos Luiz Henrique FontouraMarta SchmittNewton SilvaClarisse DiefenthälerPaulo MoreiraDemétrio De Freitas XavierRodrigo DMartMárcio GobattoLuiz Lau, Vera Vergo, assim como aos demais amigos da Fundação Piratini. O meu imenso agradecimento. Vocês dignificam o por do sol visto do Morro Santa Teresa.

quarta-feira, setembro 28

PARATUDO

Paratudo Em São Paulo sou petista Em Brasília, Ciro Gomes Freixo no Rio de Janeiro Requião Curitibano Em seu caos sartoriano
Luciana em Porto Alegre É Psol em Satolep Jurandir merece o amparo Com Governaço e Lazier PDT eu não encaro Só se contra o Edir Macedo Veja, Globo ou Bolsonaro Mas que fique muito claro Que o voto é disputado Não se entrega de primeira Pra qualquer discurso aguado Faz de tudo bem pensado Anarquista brasileiro!

Não há nada definido
Só depois que eu votar
E quem quer que seja eleito(a)
é que deve governar
Sem golpismo ou boicote
Fora Temer, Diretas Já!

Falta mexer em muita coisa
o sistema de eleição
o horário gratuito
a forma de contribuição
e exigir das autoridades
respeitarem a Constituição

"Como pode um anarquista
querer democracia assim"
você pode perguntar
Responderei muito feliz
Quero voto e movimento
pra fazer outro país

sábado, setembro 17

A bênção da desilusão

A bênção da desilusão


 Para Luís Fernando Veríssimo

Acabo de ler uma entrevista do querido Luís Fernando Veríssimo a um jornal brasileiro declarando-se “um esquerdista desiludido”. Sou um fã enorme do LFV e, mesmo se não fosse, entendo, compreendo, curto e compartilho suas desilusões e perplexidades. Lembro-me rapidamente de suas tirinhas "As Cobras", onde uma delas confessava em meio ao maravilhamento de uma paisagem: “Meu filho, um dia toda esta perplexidade será sua”.

Há horas venho pensando sobre essa questão da desilusão e me dei conta de que nunca vi ou li nada sobre algum “direitista” desiludido, um liberal desiludido, um nazista desiludido, um monarquista desiludido, um pastor pentecostal desiludido, um ditador desiludido, um homofóbico desiludido, um torturador desiludido. Talvez eu precise ler e observar mais.

Morando temporariamente na Inglaterra – há exato um ano, nunca ouvi alguém desiludido com o partido conservador ou com a monarquia, por exemplo. Nunca ouvi algo como a “desilusão provocada pelo governo Thatcher”. Houve desilusão recente com a questão Brexit, por exemplo. Os adeptos da União Europeia se desiludiram para valer. Quem mais se desiludiu com o Brexit, no entanto, foram os trabalhistas que estão até agora questionando a liderança do Corbyn, dito de esquerda. Cameron, conservador, talvez tenha se desiludido com o Brexit ao ponto de renunciar, mas os conservadores em menos de uma semana estavam com uma nova primeira ministra, bem coesos e prontinhos para governar. Sem maior alarde ou especulação sobre suas disputas internas. A troca foi rápida e sem grandes traumas. Os trabalhistas, os Labours, por outro lado, enfrentam uma rachadura que é exposta todo o dia no noticiário como uma espécie de reality show até que confirmem ou desconfirmem sua liderança – o que deve ocorrer na próxima semana. A primeira coisa, ao se desiludirem com o referendo, por exemplo, foi questionar a oposição, e não o governo. Aliás, uma das coisas mais interessantes no âmbito do noticiário político inglês é o fato de a oposição, suas articulações, fissuras ou realizações, figurarem aparentemente com maior presença no noticiário do que o próprio governo que, afinal de contas governa e só por isso deveria aparecer mais nas notícias. Não é curioso?

Outra coisa interessante é que estou convencido, passando esse tempinho na Inglaterra, de que estou num país comunista – isso segundo os conceitos propagados pelo senso comum no Brasil. Aqui em Bath, como em várias regiões do país, todas as casas são iguais: mesma cor, formato, materiais e dimensões, com pouquíssimas variações que muitas vezes se resumem meramente às cores das portas das casas. Isso gera um efeito visual impactante e demonstra a grande regulação do setor. Existe um sistema público de saúde, o NHS. Existe regulação da mídia. A maior empresa de televisão é pública, a famosa BBC. Dentre um dos maiores parceiros comerciais está a China comunista, sem dúvida o mais promissor, embora tenha passado por uma crise financeira neste ano ligada à bolsa de valores, vai entender. A união civil e a adoção homoafetiva são permitidas. O aborto é legalizado. A educação básica é pública. E tem feriados de montão! E tem salário mínimo! Enfim, considerando-se que toda tentativa de regular a mídia, assim como a de defender a comunicação pública e os direitos humanos por exemplo, é considerado ‘bandeira de esquerda’ no Brasil, confesso que ando muito confuso e com uma baita crise de identidade. Será?


Para deixar bem claro, não estou comparando duas realidades distintas. Faço de tudo para não cair no vira-latismo, que todos sabemos muito forte. Não estou dizendo que a Inglaterra é melhor ou pior. Estou apenas pensando sobre a maneira pela qual como nós vamos construindo nossos conceitos de direita e de esquerda no Brasil. Escrevo sobre o Brasil e o amo pra valer. Quando ouvimos entidades como a FIESP, a FIERGS ou a FARSUL falar das maravilhas do liberalismo e livre mercado no chamado primeiro mundo, precisamos fazer esta discussão com muita consciência de que esse liberalismo puro e utópico não existe em lugar nenhum deste planeta. E não tem ninguém desiludido com isto. Essa turma não se desilude. Ninguém se declarou desiludido quando as invasões e guerras do Iraque, Afeganistão e Síria não resultaram na eliminação do terrorismo, por exemplo. Ninguém se importa se o liberalismo é uma utopia inatingível.

Democratas desiludidos, republicanos desiludidos. Nunca ouviremos falar da desilusão do Trump, por exemplo. A desilusão está destinada às nossas melhores expectativas. A desilusão é um pós-fato, é uma pós-realização, proveniente de uma tentativa, um erro, uma falha, uma traição. A desilusão é a anti-convicção por excelência. Entre a desilusão e a convicção, eu fico com a primeira. Nossa desilusão está comprovada. Nossa desilusão é autêntica. Neste sentido, preciso confessar uma desilusão bastante particular e pessoal. Estou desiludido e decepcionado com os poderosos do Brasil: banqueiros, grandes grupos de comunicação, coronéis, latifundiários, classe política e conglomerados empresariais que foram extremamente mal-agradecidos com quem não ameaçou em nada seus privilégios ou sequer fez alguma mudança estrutural profunda na sociedade brasileira. A expectativa de ganhos futuros como o estratégico Pré-Sal, por exemplo, revela-se uma boa explicação para a origem dessa minha decepção com determinados setores pouco adeptos das lides democráticas.

Só para divagar um pouco, muito já se escreveu sobre democracia como arte, como ópera, por exemplo, onde precisamos “suspender o descrédito”, ou seja, acreditar na realidade interna do palco para deixar que a narrativa aconteça. É pura ilusão. É um pacto tácito entre artista e expectador. Se não houver esse pacto, não há espetáculo. E sabemos o quão essencial para nossas vidas é o espetáculo. Paradoxalmente talvez o grande problema contemporâneo seja justamente a espetacularização, ou seja, quando todos estão em cima do palco atuando uns para os outros e não há mais a quem iludir. Não tem como ter pacto de confiança se todos estão no palco ao mesmo tempo disputando as atenções. Sem pacto não há palco, sem palco não há pacto. Isso é claro numa democracia representativa tradicional, ocidental, careta até, onde papéis e trabalhos são divididos e fragmentados. Na farsa da democracia, setores romperam o pacto e não respeitaram as regras e convenções mais elementares do espetáculo. Havemos de experimentar um novo pacto e redefinir um novo espetáculo. Havemos de reconhecer que não atuamos todos no primeiro plano o tempo todo. É necessária a diversidade para a narrativa. Não é o caso de ser decorativo, mas contracenar e “dar o foco” àqueles que, através da ilusão eleitoral, foram apontados como atores principais até o fim do ato. Novo ato, novos atores, nova série somente como nova eleição, digo, seleção de elenco. No final das contas, enquanto os desiludidos lamentam, os convictos governam.

Temos republicanos desiludidos, democratas desiludidos, humanistas desiludidos, esquerdistas desiludidos, ativistas desiludidos. Não nos falta a desilusão, desilusão, desilusão danço eu, dança você na dança da solidão. Grande Paulinho da Viola, que cantou nosso hino na Olimpíada com voz sábia, sóbria ao mesmo tempo mágica e magistral. Quer palavra mais linda de cantar? Desilusão é uma palavra linda de cantar: cheia de sílabas, lalação, sibilação, aliteração, ressonância e nasalidade. É elegante, não é explosiva. Todos deveríamos sentir desilusão um dia. Infeliz daquele que nunca sentiu desilusão.




Leandro Maia
Cancionista e professor

quinta-feira, junho 9

#24horasdeNico - Nico Nicolayewski

#24HorasdeNico




Estou longe, como alguns sabem, estudando minhas doutoranças. Estes tempos, num seminário de musicologia intercultural me dei conta de um troço que quase me fez mudar todo o meu projeto. Não pude seguir em frente, por razões óbivas, mas compartilho o insight aqui e torço para que possamos refletir neste sentido.

Sou desde muito baita fã do Nico Nicolayewski. Talvez por isso não tenha tido a coragem de ousar me aproximar ou demonstrar minha fanzisse abertamente. É um tipo de fanzisse muito particular, quando o fã se identifica na obra, na forma, nos projetos poéticos.

Meu disco preferido na infância era o disco do Saracura, junto com o dos Almôndegas. Aquilo bateu muito forte em mim. Ali, um núcleo dos mais espetaculares que Porto Alegre/RS produziu: Nico, Barbará, Silvio Marques, Pezão e letras humoradas do Levitan. Acho que o Cláudio Levitan é peça chave nesta história. Considero o Cláudio Levitan o grande compositor de Porto Alegre, com a devida vênia a todos os grandes que temos. O Hique Gomez é um artista que admiro demais também e se encaixa nesta categoria grandiosa.

Qual é a tese: acho que existe um poderoso elemento judaico/hebraico/iídiche que marca a vida cultural de Porto Alegre e, sobretudo, o humor. Me dei conta disto num seminário sobre Klezmer. É um ritmo dançante, maravilhoso, virtuosístico, festivo. É a alma do Tangos e Tragédias em seu duo de Acordeom e Violino. A Sbórnia é a maior invenção da literatura gaúcha (não tenho autoridade para afirmar isso, mas vale a frase de impacto).

A Sbórnia me parece algo que só é possível por essa cultura errante, dos deslocamentos, das diásporas, do estranhamento, um pertencer e não pertencer. A Sbórnia é gaudéria, irreverente, é campo neutral, é judaica, é um lugar não-lugar. Um mortal que não conheça os deslocamentos, a arte do riso e a necessidade de fuga não conceberia a Sbórnia. Essa concretude absurda da Sbórnia revela nosso próprio mito de origem. Ou alguém duvida que Nico esteja na Sbórnia?




#24HorasdeNico

PS: Aqui um tema em parceria com Thiago Colombo de Freitas, de declarada inspiração Sborniana e Klemérica: https://soundcloud.com/mandinho/10-10-n-o-consigo-segurar #24horasdeNico

segunda-feira, abril 11

O Carnaval e A Filosofia - Livro para Baixar

Prezados,

Participo do livo com o capítulo "Rito e Ritmo".
É gratuito para baixar online.

http://www.editorafi.org/#!005ronie/ons9l
http://media.wix.com/ugd/48d206_1907bff60c1c4e1583c1b1a8c4810e46.pdf





Abraços e boas leituras

Leandro

O Carnaval e a Filosofia
Ronie Alexsandro Teles da Silveira (Org.)


Discutir as relações entre o carnaval e a filosofia significa tornar viável a vocação da filosofia para refletir sobre o mundo que nos cerca. Como o mundo que cerca os brasileiros mais de perto é mesmo o Brasil, o carnaval torna-se uma necessidade para os filósofos daqui.

ISBN: 978-85-5696-005-4
Nº de pág.: 297