PROCULTURA: UMA ODISSÉIA
EM PELOTAS
Por Leandro Maia
Músico
I
PROCULTURA é o nome do Programa
Municipal de Apoio à Cultura instiuído pela Lei Municipal Nº 5.662, de 30 de
dezembro de 2009. O programa é gerido pela Secretaria Municipal de Cultura, a
SECULT, atualmente dirigida pelo Sr. Secretário Ulisses Nornberg. Vale
ressaltar, de início, que a referida lei constituiu-se num grande avanço para a
cidade, pois implementa uma política pública democrática, transparente, plural e
eficiente, se realizada de fato.
II
É um avanço exemplar em vários
sentidos. A proposta surgiu como uma demanda da própria comunidade cultural
pelotense, através da manifestação de artistas e ativistas da cultura, de
seminários como “Primavera da Cultura Livre”, promovidos pelos diversos
coletivos e movimentos culturais da cidade, que é uma referência em cultura no
Rio Grande do Sul e Brasil. Um avanço porque nasce do diálogo entre comunidade
cultural e poder público. Um avanço porque compreende a cadeia produtiva do
setor e sua organização como Economia da Cultura. Avanço porque entende as
artes e a cultura como campo de trabalho, emprego e renda, além de elemento fundamental
para a estruturação da subjetividade e imaginário simbólico de uma população.
Uma programação cultural forte na cidade contribui para a educação, para o
turismo, o lazer em diversos âmbitos da vida das pessoas.
III
O diálogo parece rompido
unilateralmente, como se o tampão de ouvido utilizado por Ulisses, herói da
Odisséia, ao invés de protegê-lo do canto das sereias, o tivesse protegido do
canto dos artistas da cidade. Isto porque o Secretário Ulisses e o Prefeito
Adolfo Fetter, decidiram utilizar as verbas destinadas ao Programa Municipal de
Apoio à Cultura – que é gerenciado através de edital público, implementado por
técnicos e avaliado por especialistas – em outras prioridades, digamos, o que
gerou um “erro de sistema”, ocasionando atraso nos pagamentos. Desde o ano de
2011, diversas explicações foram dadas. Mas explicação não é diálogo. Diálogo é
cumprir o que foi acordado, decretado, selado, registrado, carimbado, avaliado,
rotulado, se quiser voar. Plunct, Plact, Zum, não vai a lugar nenhum, como
diria o velho Raul. Se a cidade apresenta problema em relação a espaços
culturais (vide Theatro Sete de Abril), apresenta também sério problema na área
de financiamento à cultura.
IV
Voltando aos gregos: um simples
jogo de lógica nos faria pensar a respeito. 1) O gestor público institui o PROCULTURA
democrático, transparente, plural e eficiente. 2) O gestor público não executa
o PROCULTURA democrático, tranparente, plural e eficiente. 3) Qual é a
conclusão? Podemos afirmar que o gestor público é democrático, transparente,
plural e eficiente? Talvez o procedimento de silogismo não esteja a contento e
o autor possa parecer um sofista, mas o exercício é revelador da atual situação
da Cultura em Pelotas. O mesmo gestor que cria a lei, não a aplica. Como fica?
V
E mais: o Programa não está
completo. Recentemente em audiência sobre o tema na Câmara de Vereadores,
realizada em 23/03/2012, ficou esclarecido outro “erro de sistema”: a verba do
Procultura não se constitui num Fundo Municipal, não apresenta reserva ou
destinação alguma. Não tem valor fixo, não tem prazo, vinculação. Nada obriga a
Prefeitura a executar o orçamento referente ao Procultura – a não ser, é claro,
o compromisso firmado através de editais e o controle da sociedade civil.
Temos, então, um “cavalo de Tróia”, uma “Economia Informal da Cultura”, embora
existam contratos assinados desde janeiro prevendo o repasse de verbas e
execução de projetos importantes para a cidade. Um verdadeiro épico do
financiamento à cultura.
VI
Vale ressaltar à população e ao poder
público atual e futuro – já que estamos próximos às eleições municipais – que é
urgente que o programa transforme-se realmente num Fundo. Isto é uma diretriz
do próprio Ministério da Cultura (MinC) para o setor. Somente poderá participar
do Sistema Nacional de Cultura, em fase de implementação, a prefeitura que
tenha o chamado “CPF”, ou seja, que tenha instituído um Conselho, um Plano e um
Fundo Municipais de Cultura. Se o Sistema Nacional de Cultura já estivesse em
vigor, Pelotas não poderia participar dele, pois o Programa de Apoio à Cultura
(PROCULTURA) não é gerido por meio de um Fundo Municipal, que tenha receita e
rubricas próprias. É gerido através de uma verba aleatória e perambulante junto
aos cofres da Prefeitura Municipal entre um carnaval e outro. Não ter um Fundo
Municipal de Cultura em Pelotas impossibilita que a cidade receba, inclusive,
verbas federais para o setor. Resumindo: além de não pagar o que deve, a
Prefeitura Municipal impossibilita que venham outras fontes de recursos para a
Cultura de Pelotas, pois a cada real investido pela Prefeitura, prevê-se um
real do Governo Federal. Como está atualmente, o Procultura vive ao sabor dos
ventos da nave de Ulisses em meio ao Mar Egeu. Antes fosse o Laranjal. Que a
situação se resolva sem maiores tragédias e o PROCULTURA cumpra seus mais de
doze trabalhos a serem realizados ainda neste ano.
I
PROCULTURA é o nome do Programa
Municipal de Apoio à Cultura instiuído pela Lei Municipal Nº 5.662, de 30 de
dezembro de 2009. O programa é gerido pela Secretaria Municipal de Cultura, a
SECULT, atualmente dirigida pelo Sr. Secretário Ulisses Nornberg. Vale
ressaltar, de início, que a referida lei constituiu-se num grande avanço para a
cidade, pois implementa uma política pública democrática, transparente, plural e
eficiente, se realizada de fato.
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