DOUTORADO

sábado, setembro 17

A bênção da desilusão

A bênção da desilusão


 Para Luís Fernando Veríssimo

Acabo de ler uma entrevista do querido Luís Fernando Veríssimo a um jornal brasileiro declarando-se “um esquerdista desiludido”. Sou um fã enorme do LFV e, mesmo se não fosse, entendo, compreendo, curto e compartilho suas desilusões e perplexidades. Lembro-me rapidamente de suas tirinhas "As Cobras", onde uma delas confessava em meio ao maravilhamento de uma paisagem: “Meu filho, um dia toda esta perplexidade será sua”.

Há horas venho pensando sobre essa questão da desilusão e me dei conta de que nunca vi ou li nada sobre algum “direitista” desiludido, um liberal desiludido, um nazista desiludido, um monarquista desiludido, um pastor pentecostal desiludido, um ditador desiludido, um homofóbico desiludido, um torturador desiludido. Talvez eu precise ler e observar mais.

Morando temporariamente na Inglaterra – há exato um ano, nunca ouvi alguém desiludido com o partido conservador ou com a monarquia, por exemplo. Nunca ouvi algo como a “desilusão provocada pelo governo Thatcher”. Houve desilusão recente com a questão Brexit, por exemplo. Os adeptos da União Europeia se desiludiram para valer. Quem mais se desiludiu com o Brexit, no entanto, foram os trabalhistas que estão até agora questionando a liderança do Corbyn, dito de esquerda. Cameron, conservador, talvez tenha se desiludido com o Brexit ao ponto de renunciar, mas os conservadores em menos de uma semana estavam com uma nova primeira ministra, bem coesos e prontinhos para governar. Sem maior alarde ou especulação sobre suas disputas internas. A troca foi rápida e sem grandes traumas. Os trabalhistas, os Labours, por outro lado, enfrentam uma rachadura que é exposta todo o dia no noticiário como uma espécie de reality show até que confirmem ou desconfirmem sua liderança – o que deve ocorrer na próxima semana. A primeira coisa, ao se desiludirem com o referendo, por exemplo, foi questionar a oposição, e não o governo. Aliás, uma das coisas mais interessantes no âmbito do noticiário político inglês é o fato de a oposição, suas articulações, fissuras ou realizações, figurarem aparentemente com maior presença no noticiário do que o próprio governo que, afinal de contas governa e só por isso deveria aparecer mais nas notícias. Não é curioso?

Outra coisa interessante é que estou convencido, passando esse tempinho na Inglaterra, de que estou num país comunista – isso segundo os conceitos propagados pelo senso comum no Brasil. Aqui em Bath, como em várias regiões do país, todas as casas são iguais: mesma cor, formato, materiais e dimensões, com pouquíssimas variações que muitas vezes se resumem meramente às cores das portas das casas. Isso gera um efeito visual impactante e demonstra a grande regulação do setor. Existe um sistema público de saúde, o NHS. Existe regulação da mídia. A maior empresa de televisão é pública, a famosa BBC. Dentre um dos maiores parceiros comerciais está a China comunista, sem dúvida o mais promissor, embora tenha passado por uma crise financeira neste ano ligada à bolsa de valores, vai entender. A união civil e a adoção homoafetiva são permitidas. O aborto é legalizado. A educação básica é pública. E tem feriados de montão! E tem salário mínimo! Enfim, considerando-se que toda tentativa de regular a mídia, assim como a de defender a comunicação pública e os direitos humanos por exemplo, é considerado ‘bandeira de esquerda’ no Brasil, confesso que ando muito confuso e com uma baita crise de identidade. Será?


Para deixar bem claro, não estou comparando duas realidades distintas. Faço de tudo para não cair no vira-latismo, que todos sabemos muito forte. Não estou dizendo que a Inglaterra é melhor ou pior. Estou apenas pensando sobre a maneira pela qual como nós vamos construindo nossos conceitos de direita e de esquerda no Brasil. Escrevo sobre o Brasil e o amo pra valer. Quando ouvimos entidades como a FIESP, a FIERGS ou a FARSUL falar das maravilhas do liberalismo e livre mercado no chamado primeiro mundo, precisamos fazer esta discussão com muita consciência de que esse liberalismo puro e utópico não existe em lugar nenhum deste planeta. E não tem ninguém desiludido com isto. Essa turma não se desilude. Ninguém se declarou desiludido quando as invasões e guerras do Iraque, Afeganistão e Síria não resultaram na eliminação do terrorismo, por exemplo. Ninguém se importa se o liberalismo é uma utopia inatingível.

Democratas desiludidos, republicanos desiludidos. Nunca ouviremos falar da desilusão do Trump, por exemplo. A desilusão está destinada às nossas melhores expectativas. A desilusão é um pós-fato, é uma pós-realização, proveniente de uma tentativa, um erro, uma falha, uma traição. A desilusão é a anti-convicção por excelência. Entre a desilusão e a convicção, eu fico com a primeira. Nossa desilusão está comprovada. Nossa desilusão é autêntica. Neste sentido, preciso confessar uma desilusão bastante particular e pessoal. Estou desiludido e decepcionado com os poderosos do Brasil: banqueiros, grandes grupos de comunicação, coronéis, latifundiários, classe política e conglomerados empresariais que foram extremamente mal-agradecidos com quem não ameaçou em nada seus privilégios ou sequer fez alguma mudança estrutural profunda na sociedade brasileira. A expectativa de ganhos futuros como o estratégico Pré-Sal, por exemplo, revela-se uma boa explicação para a origem dessa minha decepção com determinados setores pouco adeptos das lides democráticas.

Só para divagar um pouco, muito já se escreveu sobre democracia como arte, como ópera, por exemplo, onde precisamos “suspender o descrédito”, ou seja, acreditar na realidade interna do palco para deixar que a narrativa aconteça. É pura ilusão. É um pacto tácito entre artista e expectador. Se não houver esse pacto, não há espetáculo. E sabemos o quão essencial para nossas vidas é o espetáculo. Paradoxalmente talvez o grande problema contemporâneo seja justamente a espetacularização, ou seja, quando todos estão em cima do palco atuando uns para os outros e não há mais a quem iludir. Não tem como ter pacto de confiança se todos estão no palco ao mesmo tempo disputando as atenções. Sem pacto não há palco, sem palco não há pacto. Isso é claro numa democracia representativa tradicional, ocidental, careta até, onde papéis e trabalhos são divididos e fragmentados. Na farsa da democracia, setores romperam o pacto e não respeitaram as regras e convenções mais elementares do espetáculo. Havemos de experimentar um novo pacto e redefinir um novo espetáculo. Havemos de reconhecer que não atuamos todos no primeiro plano o tempo todo. É necessária a diversidade para a narrativa. Não é o caso de ser decorativo, mas contracenar e “dar o foco” àqueles que, através da ilusão eleitoral, foram apontados como atores principais até o fim do ato. Novo ato, novos atores, nova série somente como nova eleição, digo, seleção de elenco. No final das contas, enquanto os desiludidos lamentam, os convictos governam.

Temos republicanos desiludidos, democratas desiludidos, humanistas desiludidos, esquerdistas desiludidos, ativistas desiludidos. Não nos falta a desilusão, desilusão, desilusão danço eu, dança você na dança da solidão. Grande Paulinho da Viola, que cantou nosso hino na Olimpíada com voz sábia, sóbria ao mesmo tempo mágica e magistral. Quer palavra mais linda de cantar? Desilusão é uma palavra linda de cantar: cheia de sílabas, lalação, sibilação, aliteração, ressonância e nasalidade. É elegante, não é explosiva. Todos deveríamos sentir desilusão um dia. Infeliz daquele que nunca sentiu desilusão.




Leandro Maia
Cancionista e professor

quinta-feira, junho 9

#24horasdeNico - Nico Nicolayewski

#24HorasdeNico




Estou longe, como alguns sabem, estudando minhas doutoranças. Estes tempos, num seminário de musicologia intercultural me dei conta de um troço que quase me fez mudar todo o meu projeto. Não pude seguir em frente, por razões óbivas, mas compartilho o insight aqui e torço para que possamos refletir neste sentido.

Sou desde muito baita fã do Nico Nicolayewski. Talvez por isso não tenha tido a coragem de ousar me aproximar ou demonstrar minha fanzisse abertamente. É um tipo de fanzisse muito particular, quando o fã se identifica na obra, na forma, nos projetos poéticos.

Meu disco preferido na infância era o disco do Saracura, junto com o dos Almôndegas. Aquilo bateu muito forte em mim. Ali, um núcleo dos mais espetaculares que Porto Alegre/RS produziu: Nico, Barbará, Silvio Marques, Pezão e letras humoradas do Levitan. Acho que o Cláudio Levitan é peça chave nesta história. Considero o Cláudio Levitan o grande compositor de Porto Alegre, com a devida vênia a todos os grandes que temos. O Hique Gomez é um artista que admiro demais também e se encaixa nesta categoria grandiosa.

Qual é a tese: acho que existe um poderoso elemento judaico/hebraico/iídiche que marca a vida cultural de Porto Alegre e, sobretudo, o humor. Me dei conta disto num seminário sobre Klezmer. É um ritmo dançante, maravilhoso, virtuosístico, festivo. É a alma do Tangos e Tragédias em seu duo de Acordeom e Violino. A Sbórnia é a maior invenção da literatura gaúcha (não tenho autoridade para afirmar isso, mas vale a frase de impacto).

A Sbórnia me parece algo que só é possível por essa cultura errante, dos deslocamentos, das diásporas, do estranhamento, um pertencer e não pertencer. A Sbórnia é gaudéria, irreverente, é campo neutral, é judaica, é um lugar não-lugar. Um mortal que não conheça os deslocamentos, a arte do riso e a necessidade de fuga não conceberia a Sbórnia. Essa concretude absurda da Sbórnia revela nosso próprio mito de origem. Ou alguém duvida que Nico esteja na Sbórnia?




#24HorasdeNico

PS: Aqui um tema em parceria com Thiago Colombo de Freitas, de declarada inspiração Sborniana e Klemérica: https://soundcloud.com/mandinho/10-10-n-o-consigo-segurar #24horasdeNico

segunda-feira, abril 11

O Carnaval e A Filosofia - Livro para Baixar

Prezados,

Participo do livo com o capítulo "Rito e Ritmo".
É gratuito para baixar online.

http://www.editorafi.org/#!005ronie/ons9l
http://media.wix.com/ugd/48d206_1907bff60c1c4e1583c1b1a8c4810e46.pdf





Abraços e boas leituras

Leandro

O Carnaval e a Filosofia
Ronie Alexsandro Teles da Silveira (Org.)


Discutir as relações entre o carnaval e a filosofia significa tornar viável a vocação da filosofia para refletir sobre o mundo que nos cerca. Como o mundo que cerca os brasileiros mais de perto é mesmo o Brasil, o carnaval torna-se uma necessidade para os filósofos daqui.

ISBN: 978-85-5696-005-4
Nº de pág.: 297


sábado, outubro 11

FEIURA, PREGUIÇA, INOCÊNCIA E ÓDIO

FEIURA, PREGUIÇA, INOCÊNCIA E ÓDIO (O BLOGGER NÃO ESTAVA DEIXANDO EU POSTAR NOVO TEXTO, ENTÃO APROVEITEI UM POST ANTIGO. A DATA É DE 16/03/2015 Acordei agora. Quase quatro da manhã e devo demorar para conseguir dormir. Algumas sensações estranhas. Ontem foi 15/03, dia da passeata em todo o país. Permaneci no Laranjal, praia de água doce que tem sido um misto de morada e refúgio. Acompanhei alguma coisa pela internet, redes sociais. Este movimento tem muitas leituras e eu não gostaria de restringir apenas à minha impressão inicial, que toma as movimentações como manobra de desestabilização do governo, terceiro turno, revival da marcha de 64 ou mimimiday. Acho que temos algo muito maior em curso e sobretudo algumas revelações sobre quem somos. Embora não possamos considerar as manifestações como espontâneas, haja visto a grande antecedência e campanha realizada por meio de comunicação de massa. Mas a participação de pessoas que considero queridas, tais como mães e pais de amigos me revelou – através da afetividade – algo que não havia notado até então. Uma das pessoas queridas postou fotos com a legenda: “Eu fui. Por insatisfação com a impunidade e com o desrespeito das lideranças (3 poderes) para com a população”. E a primeira foto mostra o cartaz “Dilma: não é 3º turno nem golpe. É indignação. Saco cheio. Ou muda ou cai fora”. A legenda e a foto pareceram pra mim uma grande contradição. Primeiro porque demonstram a insatisfação com a impunidade (três poderes) enquanto o cartaz atribui toda a responsabilidade à presidente Dilma. Ou “muda ou cai fora”. Acho que isso revela muitas coisas sobre nós brasileiros. Talvez do ser humano em si. Somos feios. Acho que somos também preguiçosos. Descobrimos como somos feios e não gostamos nem um pouco. Descobrimos a corrupção encralacada nos três poderes. Descobrimos a corrupção capilarizada na iniciativa privada. Descobrimos a corrupção em nossas relações pessoais. O que antes era escondido, agora tornou-se insuportável. Somos feios, preguiçosos e inocentes também. Inocentes porque talvez não soubéssemos de toda a roubalheira. Talvez hipócritas. Preguiçosos porque restringimos nossa participação política apenas às eleições, lemos apenas o que nos cai nas mãos e em letras garrafais, não nos informamos direito e sequer conseguimos unificar nossos anseios em uma bandeira única, como a reforma política, por exemplo. Neste sentido, é necessário que a imprensa estimule nossa raiva, que seja realizada uma grande greve de caminhoneiros estimulados pelos empresários, que alimentos estraguem nos estoques e fiquemos sem gasolina por um ou dois dias. Soma-se ao fato do dólar subir um pouco e a meta de inflação tenha de ser flexibilizada. Isto depois de ficar sem água em regiões onde isso era inimaginável. A raiva e o ódio surgem naturalmente e é fácil disfarça-los em indignação. Digredindo mais um pouco. Eis que a Presidência da República não tem mais apenas uma função de governança de estado. Ela contém em si uma carga simbólica muito grande. Talvez aquela saudade da monarquia que todos inconscientemente temos em nossas fantasias infantis. Há poucos dias ouvi uma entrevista do prefeito Fernando Haddad, de São Paulo, avaliando os índices de popularidade de sua gestão. Não moro em São Paulo, mas muitos amigos o consideram o melhor prefeito de todos os tempos. Ouvindo sua entrevista e, apesar da tentativa gritante dos entrevistadores em desqualifica-lo, fiquei muito surpreso com sua postura e acredito que realmente seja uma grande figura. Invejo a cidade de São Paulo por ter um prefeito como ele, ao mesmo tempo em que lamento sua saída do Ministério da Educação. Haddad, naquela ocasião, demonstrou muita tranquilidade ao falar sobre o papel simbólico em ser prefeito de uma cidade como São Paulo, dizendo que o prefeito concentra demandas que muitas vezes extrapolam sua real responsabilidade. “A crise da água, por exemplo – disse ele – também entra na conta do prefeito.” O curioso é que Haddad, ao invés de transferir a responsabilidade, entendeu que a população não está propensa a fazer esta avaliação e que o prefeito deve saber que faz parte de “ser prefeito” lidar com estas reações. Escrevo este breve relato para que possamos pensar sobre o que se espera, no senso comum, de um presidente. Neste sentido, ainda acho que somos preguiçosos e inocentes: queremos pessoas mágicas que resolvam os nossos problemas e não nos deem muito trabalho. O Partido dos Trabalhadores possui também uma grande importância simbólica. Amigos que participaram da fundação do PT são, hoje, talvez os maiores anti-petistas que eu conheço. Algo como “o PT não podia ter feito o que fez”. E está correto. Ao mesmo tempo, tenho a impressão de que funcionam como ex-fumantes que condenam o vício. É uma grande frustração e demonstra mais uma vez nossa feiura. Chamo a atenção, apenas, para o fato de que a mesma expectativa que existe sobre um prefeito ou uma presidente, também é atribuída a um partido. E Aqui talvez resida a novidade. O caso PT é emblemático justamente por ser um partido originalmente constituído de pessoas reais que nunca haviam acendido à condição de gestores públicos. Um bancário que se tornou prefeito de Porto Alegre. Um metalúrgico que se tornou presidente. Neste sentido, nossa inocência em acreditar que se pode chegar ao poder sem entrar no sistema e resolver o Brasil sozinho, nosso ódio ao descobrir nossa própria feiura refletida em alto escalão e nossa preguiça cúmplice, que nos faz entender que simplesmente tirando o mandatário, ou um partido, resolve-se a questão. Outros partidos possuem/possuíram funções simbólicas tão importantes quanto o PT. O PMDB da redemocratização, o PTB/PDT do trabalhismo, para ficar nos partidos de massa que, pelo menos desde os anos 50, alternaram representações diversas do segmento de trabalhadores e movimento sindical. O termo feiura que venho utilizando, vale ressaltar, que nada tem a ver com aspecto físico. Estamos falando de nossa feiura moral, a descoberta que podemos tomar sete gols em casa, a descoberta de que não somos mais tão bons assim, e de que realmente queremos levar vantagem e passar a perna. A feiura do célebre diretor da empreiteira que todos fomos educados a admirar e querer ser. A preguiça mora na feiura. E não é preguiça física. É intelectual. Nossa crise é uma crise de classe média. É crise da opinião pública. É, sobretudo, uma ansiedade generalizada em tentar resolver as coisas do dia para a noite. Mais do que indignação, me parece que estamos num processo de negação. O feio é o Outro. As ruas pálidas retocadas de verde e amarelo CBF parecem querer expurgar com ódio a própria feiura, preguiça e inocência. Somos assim. Precisamos de um ícone para representar os males que estão contidos em nossa própria brasilidade. Precisamos de alguém para sacrificar, já que está chegando a páscoa, mesmo. Que possamos renascer menos feios após a páscoa e que ninguém precise morrer na cruz para purgar os nossos próprios pecados.

sábado, janeiro 11

Shalom Sharom, Salam Saddam

No verão de 2003, ainda sobre o som televisivo dos bombardeios de Bush compus esta canção.

Resta um arquivo velho, de ensaio em estúdio gravado em take único com overdub de vozes. Um registro cru para uma guerra sangrenta que apresenta sequelas até hoje.

Ariel Sharon está morto. Assim como Saddam Roussein, Yasser Arafat e outros personagens que estão mortos ou no fim de carreira. Que tenhamos dias melhores.

Fica aqui o registro.



Visão do Conflito
(Leandro Maia)
Donos da verdade se aproveitam dos fanáticos
Tomando territórios palestinos desarmados
Irônicos desdenham dos acordos e tratados
Tiram vantagem do sofrimento dos seus antepassados
Árabes cometem atentados eficazes
Assassinam a si mesmos por rancores milenares
Homens-bomba, grupos paramilitares
Organizam lutadores, terroristas, kamikases
O xerife texano envia tropas de milícia
Jovens pobres vão à guerra pela máfia armamentista
Salve, salve, chefe ianque da ganância petrolífera
Colin Powell, Tony Blair e os comandados da rainha
O império se expande sobre os povos catatônicos
Com um súdito ministro, Nero Anglo-saxônico
Onde os proto-neo-nazi-fasci-norte-americanos
E a direita israelense executam novos planos
Shalom Sharon Sharon Shalom
Shalom Sharon Sharon Shalom
Shalom Sharon Sharon Shalom
Shalom Sharon Sharon Shalom
Salam Saddam Saddam Salam
Salam Saddam Saddam Salam
Salam Saddam Saddam Salam
Salam Saddam Saddam Salam
Javé, Jeovah, Jesus, Alah
Oh Bless My Lord Tupinambá
Washington, Cabul, Jerusalém, Bagdá
Saddam Russein, Tony Blair, Yasser Arafat
Mr. Bush, shut up, o jogo não acabou
Salam Sadam, Shalom Sharom

sábado, dezembro 14

Breve Reflexão Sem Comentários



Breve Reflexão Sem Comentários.





Em arte, forma é conteúdo.
Em política, método é mérito.
Se em arte, conteúdo sem forma, é inocência estética
Em política, mérito sem método é inocência ética

Se a forma contamina o conteúdo - e se for realmente possível separar um do outro - 
O método contamina o mérito.

Ou seja:
Política é a arte de conciliar mérito e método.
Um erro de método é um erro político.
Mesmo que o mérito esteja correto.
Mas um acerto de mérito não implica necessariamente um acerto político, eis um problema ético.
É preciso que sejamos éticos
É preciso tenhamos métodos
Para fazer política
É preciso que tenhamos fígado.
É preciso que tenhamos méritos.
É preciso que sejamos dignos .
É preciso que tenhamos cérebro.



Leandro Maia
Dezembro de 2013

sábado, novembro 2

Canção por um Triz - texto convite para o Núcleo de Estudos da Canção

Canção por um Triz

            Há  alguns bons anos venho me debatendo, batendo, lendo, cantando e fazendo canção brasileira. Tenho uma teoria íntima a respeito desta nossa forma tão querida de versar sobre a vida, que é mais ou menos assim: se a sinfonia é alemã, a ópera é italiana, a poesia é francesa, o romance é russo e os contos são americanos, a canção é brasileira.  Digo isto sem medo de incorrer em falso testemunho. Junte-se a isso a nossa tradição lírica ibérica, com a sonoridade brasileira tupi, banta e ioruba e suas respectivas visões de mundo, e teremos uma língua de rica sonoridade, grande conteúdo reflexivo, equilíbrio entre vogais, consoantes, nasalidades e vocalizações diversas. Além disso, junte a tradição percussiva e dançante africana e toda imigração europeia, asiática, moura e do oriente médio, além do diálogo com outras culturas americanas, sejam do norte, Caribe, ou Conesul. Paremos por aqui, ainda sem citar a nossa própria tradição cancionista, tão rica, vasta e diversa.
            Muito já escreveu sobre canção, embora ainda pareça muito pouco. Parece menos ainda quando nos deparamos com trabalhos como TRIZ,  que  André Mehmari, Chico Pinheiro e Sérgio Santos nos apresentam em parceria com o Departamento de Difusão Cultural da UFRGS, Núcleo de Estudos da Canção  e o patrocínio da Natura Musical. Este trio, na verdade, é a reunião de uma constelação de alguns dos maiores nomes da música brasileira da atualidade, em diferentes matizes: canção, música instrumental e música erudita – como se fosse possível fazer esta separação hoje em dia.  E é disto que se trata estre trabalho, de uma reunião de artistas de grande quilate, sem preocupação em algemar as criações neste ou naquele gênero.
Em todo o disco, aparecem apenas duas canções com letra, curiosamente intituladas “Sim” e “Não”. E agora? É canção? É música instrumental? Sim ou Não? Aqui, sim, um debate que parece fadado ao fracasso. Isto porque se entendemos canção como uma peça musical feita com letra e música em palavras que contam uma história com início, meio e fim, nosso conceito de canção já era. E, por outro lado, se entendemos música instrumental como uma derivação de “música pura”, aquela que prescinde da voz humana, por um triz deixa de ser música instrumental, pois TRIZ é pleno de vozes, vocais, vocalizações sem palavras. Aliás, melodias plenamente cantáveis, em extensão vocal confortável, plenamente adequadas para a voz humana – aliás como muitos temas “instrumentais”, do choro de Pixinguinha aos tangos do Piazzolla. Difícil dizer que não é canção, em minha modesta opinião. Mas são canções sem palavras. Canção de melodia e voz. Já tentaram letrar “Libertango” do Piazzolla? Convenhamos que seria um sacrilégio. O mesmo ocorre com as canções do Triz. Uma palavra mal posta pode complicar a intricada arquitetura que ali se apresenta, fechando em um significado determinado que não é necessário. Por outro lado, a palavra bem posta abre diversos mundos. Tem uma pesquisadora, a Janete El Haouli, que chama isto de “voz-música”, ou seja, a voz que não se deixa aprisionar pelas palavras. Acho que é um bom ponto de partida.
Como cancionistas que não aceitam as fronteiras cada vez mais falsas entre música erudita e música popular, entre canção e música instrumental, estamos aqui com um belo problema por resolver e contemplar. Aliás, não sei se é intencional por parte de André, Chico e Sérgio, mas curiosamente andei “googlando” por aí e vi que TRIZ também é a sigla de Teoria Rechenia Izobretatelskih Zadatchi, que em russo significa Teoria da Resolução de Problemas Inventivos. Que os problemas inventivos sigam apontando belos caminhos para a música brasileira.

Leandro Maia.


Sobre o TRIZ:

http://www.youtube.com/watch?v=ZHy5egQpB84



sexta-feira, junho 21

Breve reflexão sobre a PEC 37 e as cinco causas anônimas.

Breve reflexão sobre a PEC 37 e as cinco causas anônimas.

1)
            A primeira causa das cinco causas manifestas de forma “direta, sem polêmicas de cunho religioso ou ideológico” do movimento Annonymous – ente, como o próprio nome diz, anônimo que se pretende porta-voz dos movimentos espontâneos no Brasil e no mundo diz “Não à PEC 37”. A quinta causa trata de “fim do foro privilegiado” para políticos.

2)
            Acho importante olharmos com calma as tais cinco causas unânimes de cunho moral. Em primeiro lugar, acho curioso que “Não à PEC 37” seja precisamente a primeira causa. Segundo, em minha opinião, existe uma contradição prática entre a primeira e a quinta causa advogada pelo Annonymous. (vide http://www.otempo.com.br/capa/brasil/grupo-anonymous-brasil-divulga-v%C3%ADdeo-defendendo-cinco-causas-para-manifesta%C3%A7%C3%B5es-1.666650 )

3)
            Ou queremos igualdade de julgamento e indiciamento de todos os cidadãos OU defendemos o fim do foro privilegiado. Não quero tratar levianamente do termo “foro privilegiado” – que trata do direito de políticos de serem julgados em instâncias diferentes da primeira instância, como é o caso dos demais cidadãos. Mas o fato é que além do foro privilegiado muitas vezes os políticos também contam com processo investigativo privilegiado, quando é feito pelo Ministério Público, e não pela polícia – como seria o caso de todos os cidadãos. Cabe ressaltar que o Ministério Público costuma manifestar-se predominantemente em casos de cunho político ou grandes escândalos nacionais, tais como o dito “Mensalão”, que vivenciamos recentemente.

4)
            Aqui uma reflexão importante: mesmo não sendo advogado, mas um cidadão atento, para mim é evidente a sucessão de erros cometidos pelo MP durante o indiciamento do processo do Mensalão. Um deles é o grande número de acusações sem provas materiais – eis o motivo pelo qual os Ministros do STF optaram pela Teoria do Domínio do Fato, uma forma de poder condenar os acusados sem que haja a vinculação direta e provada através de elementos materiais, e não somente testemunhos ou acareações. Neste sentido, a inoperância do poder de investigação do Ministério Público foi flagrante e é sobre esta incompetência investigativa que se amparam os defensores dos condenados. Ou seja, se os condenados ainda não foram para a cadeia, grande responsabilidade é do próprio MP, que não realizou investigação suficiente, atrasando o julgamento nos debates sobre o “domínio do fato”.

5)
Outro erro gravíssimo do Ministério Público, se é que podemos chamar de “erro”, é a omissão de indiciamento de figuras centrais no esquema, como é o caso de Daniel Dantas que, ao que tudo indica, participou ativamente do esquema. Isto foi  comprovado através de cópias de contratos e de transações de recursos do VisaNet, que chegam a somar milhões de reais. Vide a excelente matéria (http://www.jornalggn.com.br/blog/procurador-geral-que-livrou-dantas-do-mensalao-ganhou-contrato-da-brasil-telecom#.UbsnpNMygVd.twitter ) . Transcrevo aqui o trecho: “Excluindo Dantas, não haveria como justificar o fluxo de pagamentos aos mensaleiros. Todos os absurdos posteriores decorrem dessa falha inicial, de tapar o buraco do financiamento, depois que Dantas foi excluído do inquérito.”

6)
Ou seja, foi o próprio Ministério Público que omitiu as transações que incriminariam Dirceu e os demais “mensaleiros”.  É este MP que desejamos que seja investigador? Ora, “cachorro que tem dois donos morre de fome”, como diria meu pai. Ou seja, estando o poder de investigação diluído entre várias instituições entre Polícias e MP, a possibilidade de “grandes erros” investigativos tende a continuar ou crescer, isto porque o MP não tem, como pudemos ver no caso do Mensalão, competência para realizar investigações. A outra notícia curiosa é o fato do escritório de advocacia do antigo Procurador Geral, Antônio Fernando, que iniciou as investigações, ter sido contemplado com contrato de representação da Brasil Telecom, de Dantas, conforme a matéria: Pouco depois de se aposentar, Antônio Fernando tornou-se sócio de um escritório de advocacia de Brasília - Antônio Fernando de Souza e Garcia de Souza Advogados -, que tem como principal contrato a administração da carteira de processos da Brasil Telecom, hoje Oi, um dos braços de Dantas no financiamento do mensalão.

7)        
Precisamos abrir nossos olhos ao Annonymous, um assunto complexo como  a PEC 37 está longe de representar um grande tema de cunho moral comum a todos os cidadãos. Com Procuradores Gerais do calibre de Antonio Fernando e Roberto Gurgel – este último querido da Revista Veja – não tenho como fazer oposição à PEC 37. Quero que as investigações sejam feitas pela Polícia e os processos contem com ampla defesa, provas concretas e materiais e, sim, fiscalização do MP às investigações. Negando a PEC 37 estamos mantendo o foro privilegiado aos políticos e grandes empresários deste país.

8)
Minha desconfiança com o Annonymous iniciou quando acessei um vídeo de resposta ao Arnaldo Jabor – constantemente equivocado colunista – onde o grupo fazia diversas considerações importantes sobre a questão das passagens, mas criticava de passagem a vinda de médicos estrangeiros ao Brasil. http://www.youtube.com/watch?v=BwTSaTKt0l4. Vale prestar atenção ao final do vídeo onde ocorrem críticas ao bolsa família, típica de setores conservadores. Ora, acho muito estranho numa mesma passeata termos cartazes pela melhoria dos atendimentos e contrários às enormes filas do SUS ao mesmo tempo em que outros manifestantes se dizem contrários à vinda de médicos cubanos para atender regiões carentes brasileiras. Fiquemos atentos ao Annonymous para não sairmos do tom. Da mesma forma acho estranho solicitar igualdade de julgamento a todos os cidadãos e defender os privilégios investigativos ao Ministério Público. Que as manifestações sigam com os lindos avanços que estamos vendo no âmbito das tarifas de transporte público e pela real mudança no país. Mudança tem nome, não é anônima. Vamos prestar atenção à apropriação dos movimentos legítimos por causas que não interessam a todos os cidadãos. A galera tem que se ligar.


Leandro Maia, músico e professor universitário